Título: PAC é usado como cabo eleitoral
Autor: Bueno, Sérgio Ruck; Moura, Paola De
Fonte: Valor Econômico, 28/08/2012, Especial, p. A14

Os partidos que hoje governam municípios contemplados por recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade já pegaram carona nas obras com recursos federais para reforçar a campanha eleitoral. Os projetos anunciados pela presidente Dilma Rousseff desde o final do ano passado e direcionados, sobretudo, para a Copa do Mundo e Olimpíada, se destinam principalmente a criar ou ampliar metro e o sistema de ônibus de trânsito rápido (BRTs). Representam um chamariz de votos tão significativo que nem os candidatos de oposição ousam contestar.

Previsto para ficar pronto em 2017, o metrô de Porto Alegre é uma bandeira unânime entre os candidatos à prefeitura. Todos prometem empenho para que a primeira linha - de 14,9 quilômetros entre o centro e a zona norte - saia do papel, principalmente cobrando os recursos do PAC da Mobilidade anunciados em 2011. Também afirmam que o sistema deve ser integrado aos ônibus de trânsito rápido.

O metrô de Porto Alegre está orçado em R$ 2,46 bilhões e em outubro do ano passado Dilma Rousseff anunciou R$ 1 bilhão a fundo perdido para financiar parte do projeto, em regime de parceria público privada (PPP). O restante será bancado por meio de empréstimos tomados pela prefeitura e pelo Estado, que também concederão isenções fiscais para as obras, enquanto o consórcio vencedor da licitação para construir e operar o sistema por 30 anos entrará com cerca de R$ 150 milhões.

Segundo o prefeito José Fortunati (PDT), que pretende lançar o edital para construção do metrô em 2013, o sistema será "complementar" aos BRTs e também ao trem de superfície operado desde 1985 pela Trensurb, estatal vinculada ao Ministério dos Transportes que liga a capital a cinco municípios da região metropolitana. Com a integração, ele acredita que será possível eliminar parte das mais de 30 mil viagens de ônibus diárias até o centro da cidade.

Porto Alegre tem corredores para ônibus desde o fim da década de 1970 e três deles receberão os ônibus de trânsito rápido até a Copa de 2014, explica o prefeito. Dois já estão em obras e um em fase de contratação. Os investimentos somam R$ 195,1 milhões, financiados pela Caixa Econômica Federal, incluindo estações de embarque e desembarque fechadas e climatizadas. No novo sistema, a velocidade média dos coletivos nos corredores passará dos atuais 18 para 30 quilômetros por hora.

A deputada federal licenciada Manuela D"Ávila, que concorre pelo PCdoB, concorda que a integração entre diferentes modais são a melhor solução. Para ela, o futuro prefeito deve "acelerar" as negociações com os governos federal e estadual para iniciar as obras do metrô e captar novos recursos para ampliar o sistema linhas de ônibus rápidos.

O candidato do PT, deputado estadual Adão Villaverde, diz que a construção e a integração do metrô aos demais modais é urgente porque Porto Alegre é uma cidade "média" com problemas de "metrópole". Se eleito, quer "garantir" o repasse dos recursos necessários à implantação do metrô, além de buscar financiamento para criar a quarta avenida perimetral, ao lado de obras já projetadas ou em andamento para a Copa do Mundo.

Para o candidato do PSOL, Roberto Robaina, tanto os BRTs quanto o metrô são importantes, mas ele teme que o dinheiro do governo federal fique na promessa. Caso seja eleito, promete ir a Brasília "com o cheque na mão para Dilma assinar". Para o candidato do PSDB, Wambert Di Lorenzo, o metrô é necessário, mas virá "com pelo menos 30 anos de atraso" e se não for logo ampliado não impedirá que a cidade "pare" em mais 15 anos. Já para o candidato do PSTU, Érico Corrêa, que defende a estatização do transporte, o metrô também deveria ser público.

Beneficiada pela Copa e, principalmente, pela Olimpíada, a cidade do Rio de Janeiro ganhará, em quatro anos, 224 quilômetros de novas linhas de transporte em BRTs, VLTs (veículos leves sobre trilhos) e metrô, que somarão investimentos de mais de R$ 10 bilhões. Segundo o prefeito Eduardo Paes, candidato á reeleição, com a transformação, o percentual de usuários do transporte de massa deverá subir de 18% para 63%.

A maior parte das obras atende ao compromisso da prefeitura com o Comitê Olímpico Internacional para os jogos de 2016. Por isso, os candidatos de oposição não pretendem descumprir os projetos. No entanto, o candidato do PSOL, deputado estadual Marcelo Freixo, defende a implantação de trens de superfície nos traçados originas dos BRTs e acusa o atual prefeito de ter cedido às pressões das empresas de ônibus que também operarão os chamados ligeirões. Rodrigo Maia (DEM) critica a implantação dos BRTs, que envolve desapropriações, sem discussão prévia com a população.

O maior investimento na nova mobilidade do Rio está nas quatro linhas de BRT. Serão R$ 5,15 bilhões aplicados em 159 quilômetros de pistas para ônibus articulados. O primeiro deles, o chamado Ligeirão da Transoeste, foi inaugurado em junho. Já estão em operação 29 das 56 estações previstas no projeto.

Promessa antiga, a ligação do aeroporto do Galeão à Barra da Tijuca, também começou a ser construída. A chamada Transcarioca passará por bairros como Penha e Olaria. O terceiro BRT é também uma rodovia expressa: a quinta da cidade. Chamada de Transolímpica, a via que ligará o Recreio dos Bandeirantes ao bairro de Deodoro, foi concedida à iniciativa privada em licitação vencida pelo consórcio formado por CCR, Odebrecht e Invepar, que arcará com R$ 479 milhões. À prefeitura caberá investir mais R$ 1,072 bilhão.

Para o metrô, está em curso a construção da linha 4, uma obra polêmica. Planejado na década de 1990, o projeto foi alterado pelo governo estadual. Houve protestos e até investigação do Ministério Público. Mas agora as obras já avançam por três quilômetros de túneis escavados entre a Barra da Tijuca e São Conrado.

Metrô e BRT também são bandeiras de campanha em Belo Horizonte. O prefeito Marcio Lacerda (PSB), que busca a reeleição, se apoia não só obras do metrô, mas também no compromisso de Dilma para ajudar a construir um novo anel rodoviário. Lacerda aproveita a campanha para exibir sua obra mais visível: o BRT, que deve ser inaugurado no próximo ano. O candidato do PT, Ananias Patrus, diz que, se eleito, não tem nem o que discutir: dará continuidade a esses projetos.

Esta é a segunda reportagem da série "Mobilidade nas Eleições"