Título: Obama usará convenção para expor plano econômico
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2012, Especial, p. A16

O Partido Democrata dos EUA abre hoje a sua convenção nacional na cidade de Charlotte, na Carolina do Norte, com o desafio de definir as eleições de novembro como uma escolha entre o atual presidente americano, Barack Obama, e o seu adversário Mitt Romney, rechaçando a tentativa da oposição republicana de carimbar a disputa como um plebiscito sobre o atual governo.

Obama não tem muito a ganhar se o debate eleitoral apenas dissecar o seu desempenho no cargo para reavivar a economia dos Estados Unidos. A taxa de desemprego está em 8,3%, acima dos 6,8% vigentes quando ele foi eleito para o cargo, em 2008, com o discurso de "esperança".

"O presidente pode dizer várias coisas, mas ele não pode dizer que você está melhor ", afirmou ontem o candidato a vice-presidente na chapa republicana, Paul Ryan, num evento na Carolina do Norte. Ryan praticamente repetiu as palavras usadas pelo republicano Ronald Reagan em debate contra o então presidente democrata Jimmy Carter, em 1980.

Carter perdeu, e sua derrota é um dos exemplos que sustentam a tese de que, nos Estados Unidos, presidentes não são reeleitos quando o desemprego passa dos 7,5%. Naquela época, a taxa havia subido devido ao aperto monetário feito pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) presidido por Paul Volcker, um técnico nomeado para o cargo pelo próprio Carter, o que tornou mais difícil para o então presidente ele se eximir da responsabilidade pelo mau estado da economia.

Já Obama diz que a culpa é dos republicanos. Sua campanha adotou o slogan "avante" e procura argumentar que houve progressos, embora ainda longe do ideal, e que a plataforma eleitoral de Romney, ex-governador do Estado de Massachusetts, representa a volta a políticas do passado que enterraram os Estados Unidos na crise atual, durante o governo de George W. Bush. "Os Estados Unidos estão melhor hoje do que o que eles nos deixaram há quatro anos", disse o vice-presidente americano, Joe Biden, num evento de campanha com metalúrgicos em Ohio.

No mesmo evento, Obama deu o tom que, provavelmente, irá usar no seu discurso diante de um público esperado de cerca de 65 mil na quinta-feira num estádio de Charlotte. Obama ironizou o discurso feito pelos republicanos na sua convenção nacional, realizada na semana passada na cidade de Tampa, na Flórida:

"[Eles disseram que] a economia está mal. É tudo culpa do Obama. E o governador Romney tem o segredo para criar empregos. Eles gastaram o tempo falando sobre mim", disse Obama. "Quando o governador Romney teve a chance de contar a sua receita secreta para criar empregos, ele não ofereceu nenhuma ideia nova. É a volta às mesmas velhas políticas."

Um desafio para Obama, porém, é mostrar que ele tem uma estratégia para reviver a economia, se os eleitores confiarem a ele mais quatro anos de mandato. Uma pesquisa recente da rede de TV CBS mostra que só 35% dos americanos acreditam que Obama tem uma plano para criar empregos, enquanto 58% acham que não. Já 43% dos eleitores acham que Romney tem um projeto.

Obama está com a campanha na rua há meses, mas o discurso na convenção partidária, que é sempre transmitido ao vivo pelas três grandes redes de TV americanas, pode ajudá-lo a dar mais visibilidade à sua mensagem.

Na convenção republicana, Romney atraiu audiência de 33 milhões de pessoas e conseguiu corrigir um pouco da sua falta de empatia com o americano médio, que não se identifica com um milionário ex-executivo do mercado financeiro.

Depois de Romney expor um pouco de sua vida pessoal durante a convenção, ele conseguiu aumentar de 26% para 32% o percentual de pessoas que o consideram simpático, mostra uma pesquisa diária feita pelo instituto Ipsos Public Affairs. Ele conseguiu um pequeno impulso nas intenções de voto, embora tenha permanecido praticamente empatado com Obama.

A expectativa é que, na convenção democrata, Obama pelo menos recupere a pequena vantagem perdida. Apesar do empate nas intenções de voto, Obama ainda é visto como favorito para vencer as eleições porque ele caminha para angariar mais delegados para o colégio eleitoral que vai escolher o novo presidente, num sistema em que nem sempre o candidato que ganha mais votos populares vence.

Hoje, o ponto alto da convenção democrata será o discurso da primeira-dama, Michelle Obama. O ex-presidente Bill Clinton, a ex-secretária de Estado Madeleine Albright e o senador e ex-candidato a presidente John Kerry estão na lista dos democratas mais importantes que vão subir no palanque durante os três dias da convenção.