Título: Empresários cobram ficha limpa de Russomanno
Autor: Cunto, Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2012, Política, p. A13

Forte na parcela mais carente da população, o candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, conversou ontem com empresários na Associação Comercial de São Paulo, mas a falta de um discurso moldado à plateia desestimulou o debate. Russomanno foi cobrado sobre as denúncias "que circulam nos jornais todo dia" e se não seria punido pela Lei da Ficha Limpa.

Russomanno defendeu-se dos processos movidos pela Justiça, mas não citou as denúncias de que utiliza sua ONG com fins eleitorais nem do pedido de voto feito por pastores em cultos - prática proibida pela legislação eleitoral. Para ele, as acusações partem dos adversários. "Isso é o sujo da política. Quando não se tem propostas é que se faz esse tipo de coisa, mas a esse jogo não me submeto", afirmou.

O candidato do PRB disse que sua ficha é limpa porque tem apenas dois processos na Justiça que ainda nem foram julgados em primeira instância - ambos têm mais de dez anos e estavam no Supremo Tribunal Federal (STF) até 2010, quando ele perdeu o foro privilegiado ao deixar o mandato de deputado federal.

Em um desses processos, foi acusado de pagar funcionária de sua ONG, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), com recurso da Câmara dos Deputados. Ele nega. "Quem me deve dinheiro é o Estado, por ter atendido 350 mil com dinheiro do próprio bolso. Coloquei todo meu salário de deputado no Idec, sem nunca pedir nada em troca", disse.

No outro processo, é acusado de fraudar o domicílio eleitoral para concorrer à Prefeitura de Santo André (SP) em 2010, embora não morasse na cidade. O candidato assumiu que não residia no município, mas defendeu que a lei eleitoral estabelece que se tenha apenas domicílio eleitoral. "Quem não conhece alguém que tem casa no litoral e vota lá, mas mora em São Paulo? Domicílio eleitoral é diferente de residência", disse.

Com auxílio de seu vice, Luiz Flávio Borges D"Urso (PTB), presidente licenciado da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) e ex-dirigente da ACSP, Russomanno tentou atrair o apoio dos empresários. "Confio no Celso. Juntos, fizemos um plano de governo moderno, com novas ideias para São Paulo", disse o petebista, em um dos poucos momentos em que a plateia aplaudiu as respostas.

Nos corredores, o principal comentário era a queda de José Serra (PSDB) nas pesquisa - candidato preferido dos quatro empresários que conversaram com o Valor antes do evento -, e a relação de Russomanno com a Igreja Universal do Reino de Deus, ligada ao PRB. "Não dá para votar no PT, mas nesse candidato, controlado por uma seita religiosa, muito menos. A opção é o Serra, só que ele está mal nas pesquisas", comentou um dirigente da ACSP.

O candidato do PRB repetiu as mesmas propostas que faz para a população carente, como aumento de salário para os médicos da periferia, construção de mais um andar para ampliar a capacidade das creches e aumento do efetivo da Guarda Civil Municipal (GCM) de 6,3 mil para 20 mil pessoas em quatro anos. Isso, somado ao atraso de uma hora e meia, fez com que mais da metade da sala se esvaziasse antes do fim do debate.