Título: Indústria cai em setembro, dizem analistas
Autor: Lamucci, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Brasil, p. A3

A produção industrial teve queda em setembro, de acordo com vários indicadores sobre atividade econômica divulgados até o momento. As previsões dos analistas ouvidos pelo Valor são bastante díspares, mas todas apontam para um recuo da indústria no mês passado relação a agosto, na série livre de influências sazonais. A LCA Consultores estima uma queda de 0,5%, enquanto a Rosenberg & Associados acredita num tombo próximo a 2%, interrompendo a alta registrada em julho e agosto.

A principal causa para o mau desempenho foi a retração na produção de automóveis, influenciada fortemente pela greve na Volkswagen e na General Motors (GM). Alguns cálculos, como o da LCA, dão conta de que houve um recuo de quase 10% na comparação com agosto, com ajuste sazonal. Como tem um peso superior a 8% na pesquisa industrial mensal do IBGE, o resultado puxa o resultado da indústria para baixo, observa o economista Sérgio Vale, da MB Associados.

Ele aponta também a questão do menor número de dias úteis. Em setembro, houve três a menos que agosto, o que vai produzir um impacto negativo no resultado.

O câmbio valorizado também ajuda a explicar o baixo dinamismo da economia. "A produção deste ano foi prejudicada pelo dólar barato", diz a economista Débora Nogueira, da Rosenberg. Para ela, além de prejudicar as exportações de alguns setores, como a indústria têxtil, de calçados e de móveis, o câmbio tem provocado uma substituição da produção doméstica por produtos importados. O bom resultado das vendas no varejo, como indicam os números do IBGE sobre o comércio em agosto, confirmaria essa hipótese.

A forte expansão do crescimento das quantidades importadas também sugere esse movimento. O Credit Suisse nota que os números de setembro reforçam esse movimento. Nos últimos 12 meses, as compras externas de bens duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) aumentaram 73,7% em relação aos 12 meses anteriores.

Outros indicadores além da produção de automóveis tiveram um desempenho conflitante em setembro. Alguns foram mal, como o caso do consumo de energia elétrica, que caiu 1,2% em relação a agosto, e da produção de petróleo e gás, que ficou estável, nos cálculos da Rosenberg. Segundo Débora, a estabilidade no setor de petróleo e gás joga para baixo a expectativa para a indústria extrativa.

Mas ela ressalta que o desempenho da produção de veículos é o que realmente atrapalha. Se a fabricação tivesse ficado estável em setembro, a Rosenberg projetaria um recuo de 0,5% e não de 2%.

Alguns indicadores, porém, tiveram um desempenho razoável, o que ampara a visão mais positiva de analistas como Bráulio Borges, da LCA. Ele destaca o crescimento da produção de aços brutos em setembro, de 1,1% em relação a agosto. "A indústria siderúrgica vem crescendo com força, e tem um peso importante na pesquisa do IBGE, de quase 5%", afirma Borges.

O fluxo pedagiado de veículos pesados é outro indicador que teve resultado positivo em setembro, com alta de 0,7% na comparação com o mês anterior. A expedição de papelão ondulado, que caiu 2% em relação a setembro do ano passado, ficou 0,1% acima da de agosto deste ano, na sério com ajuste sazonal calculada pela LCA e de 0,3% na da Rosenberg.

Vale tem uma previsão mais pessimista que a de Borges. Ele prevê uma queda de 1,2%, e mostra preocupação com o baixo dinamismo da economia. "Os setores que vão bem são os suspeitos de sempre", diz ele, lembrando o bom desempenho da indústria de petróleo e de mineração, favorecida pela forte demanda externa - que também tem ajudado os segmentos de açúcar e álcool -, e o de informática, beneficiado pelo crédito farto e pela redução de impostos para o setor. Já setores intensivos em mão-de-obra, como os de calçados, têxteis, calçados e móveis, sofrem com o câmbio valorizado.

A Tendências Consultoria Integrada estima uma queda da produção industrial de 0,7% em setembro. Para o economista Guilherme Maia, o dólar barato ajuda a explicar parte do fraco ritmo de crescimento, mas fatores estruturais, como a elevada carga tributária, também têm peso importante nessa falta de dinamismo.