Título: Câmbio vai ajudar inflação no atacado
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Brasil, p. A5

A variação de 0,43% do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) em janeiro, resultado abaixo das expectativas do mercado, e a recente valorização do real em relação ao dólar, fizeram com que economistas revisassem suas projeções para esse indicador de preços nos próximos meses. Alguns, apostando que o real ficará no nível de R$ 2,10 no fim do ano, também mudaram as estimativas para o resultado dos IGPs em 2007. No entanto, ainda não há sinais de que esse recuo ocorrerá nos índices de preços aos consumidores.

É o caso do economista Carlos Thadeu Gomes Filho, do Grupo de Conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Surpreendido pelo desempenho dos preços industriais, revisou a projeção do IGP-DI de fevereiro de 0,40% para 0,12%. Ele esperava que os preços dos combustíveis subissem 0,8% em janeiro. No entanto, o indicador mostrou variação negativa de 1,54%. Gomes Filho também acreditava em reajustes maiores nos itens relacionados a ferro e aço no atacado, uma vez que a Companhia Vale do Rio Doce anunciou aumento de 9,5% no minério de ferro fino.

Em janeiro, o Índice de Preços ao Atacado, o IPA, subiu 0,32%, acima do resultado de 0,11% em dezembro. A alta foi puxada pelos produtos agrícolas. Pelas contas de Otavio Aidar, economista da Rosenberg & Associados, se esses produtos tivessem ficado estáveis, em vez de subirem 1,07%, o IGP-DI teria ficado em 0,26% e não em 0,43%. O IPA teria sido de 0,06%.

Aidar também não esperava já para janeiro uma desaceleração da alta dos preços industriais, que subiram apenas 0,08%, ante 0,36% do mês anterior. "Os combustíveis vieram abaixo do esperado e vão despencar no próximo mês", avalia. Ele explica que a queda no preço do petróleo no início deste ano terá reflexos sobre os preços industriais nos próximos meses. Além disso, ele não esperava que algumas commodities industriais tivessem comportamento tão favorável. Segundo a pesquisa de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, a celulose ficou 3,9% mais barata e os produtos da cadeia de cobres, fios e cabos de cobre isolados cederam 8,1%.

O economista Luis Roberto Cunha, da PUC-RJ, também ficou surpreso com o resultado do IGP e acredita que, "se o câmbio continuar derretendo, os preços ao consumidor também mostrarão altas bem mais contidas". Neste ano, o real já se valorizou 2,4% em relação ao dólar, levando em conta o fechamento de ontem, quando caiu para R$ 2,086. A maior parte dessa valorização aconteceu recentemente. Só do dia 24 - última reunião do Copom - até agora, o real subiu 2% em relação ao dólar.

Há quem acredite que ainda é preciso esperar mais tempo de valorização do câmbio para revisar as estimativas de inflação. Tatiana Pinheiro, do ABN Amro Bank, que já estava com uma projeção menor para fevereiro, manteve o número de 0,20% para o IGP-DI. Para ela, é preciso que esse novo nível do real venha e permaneça durante um bom tempo para realmente influenciar as projeções de inflação. "E mesmo que o câmbio fique em um novo nível mais próximo dos R$ 2,09 do que dos R$ 2,12, o efeito sobre a inflação será marginal, pois não é uma mudança tão significativa como a que verificamos em outros momentos", explica ela.

A Rosenberg aposta em um fluxo ainda maior de dólares. "A balança comercial virá bem nesses meses, especialmente por conta do fim da safra da soja, que impulsionará as exportações", diz Aidar. Por isso, ele revisou a estimativa de dólar para fevereiro, março e abril de R$ 2,14 para R$ 2,10. Assim, os IGPs, projetados para 0,5% nesses meses, devem ceder para 0,15%.