Título: Duboc deixa Pão de Açúcar e vai para o Casino em Paris
Autor: Martinez, Chris
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Empresas, p. B1

Jean Duboc, um francês com ar de durão e modos extremamente contidos, desembarcou no país em 1998 para comandar uma virada no Carrefour, grupo em que já fazia uma carreira estrelada. Incomodou tanto o rival Pão de Açúcar, que, anos mais tarde, acabou se tornando um dos seus principais executivos. Agora, esse homem de fala mansa e sotaque carregado deixa a cadeira que ocupa, desde 2001, na sala compartilhada com o empresário Abílio Diniz e outros nove diretores do primeiro time, para um novo desafio. Em janeiro, ele assume a direção-geral da divisão de hipermercados do grupo Casino, em Paris.

Embora esteja mudando de emprego, Duboc manterá, indiretamente, um pé no Pão de Açúcar - a maior rede de varejo do país. O grupo francês Casino, um gigante com vendas de 22,8 bilhões de euros no ano passado, é acionista do Pão de Açúcar. Comprou o primeiro naco (24%) em 1999 e em 2005 aumentou essa fatia para 50% do capital votante, aportando US$ 1 bilhão.

Nos cinco anos que esteve à frente do Extra, a divisão de hipermercados do Pão de Açúcar, Duboc comandou mudanças importantes. As lojas passaram a ter um padrão mais homogêneo. "A área de frutas, verduras e hortaliças, assim como a peixaria, passaram a ser comparadas com lojas internacionais", diz um consultor. "Ele também trabalhou firme para qualificar os funcionários do Extra, transformando-os em generalistas, de maneira que cada um pudesse saber um pouco de cada área", acrescenta.

No mercado, sua saída não surpreendeu. Há algum tempo, desde a escolha de Cássio Casseb para o cargo de presidente do Pão de Açúcar em dezembro, circulavam rumores de que Duboc deixaria o grupo. Não que tivesse tido qualquer desavença com Casseb, mas, para alguns especialistas, Duboc teria sido preterido. "Ele merecia ter sido promovido para o cargo de presidente", comenta uma fonte. Procurado pelo Valor, Duboc preferiu não dar entrevista. O grupo informou que Abílio Diniz concordou que o Casino fizesse uma proposta a Duboc para que ele pudesse replicar na bandeira Giant a mesma estratégia do Extra.

Duboc sempre foi assim, meio avesso aos holofotes da mídia. Depois de oito anos no Brasil, colecionou amigos - muitos deles franceses - que costuma receber nos jardins de sua bela casa no bairro do Morumbi, em São Paulo.

Dificilmente é visto circulando em festas badaladas. Costuma correr pelas manhãs perto de sua casa e invariavelmente dispensa a companhia de seu cachorro, um pastor alemão. Sempre que a agenda lotada permite, ele viaja para mergulhar em praias brasileiras e no exterior, com a família. Preserva um hobby que desfrutava com o então amigo, comandante Rolim Amaro, da TAM: pilotar uma gigantesca Honda prateada.