Título: WiMax começa a acontecer, mas indústria tem desafios
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Empresas, p. B4

Durante os últimos anos, anúncios sobre a chegada do WiMax - padrão tecnológico de banda larga sem fio - soavam como promessas que nunca iriam se realizar, alimentadas apenas pela euforia dos fornecedores. Agora, as coisas parecem estar mudando, embora ainda haja questões pendentes para garantir que a decolagem seja bem-sucedida.

No mundo todo, mais de 250 redes WiMax estão sendo instaladas ou testadas. Eram apenas 150 em janeiro e um número insignificante no ano passado.

É nesse ambiente que o Brasil estuda licitar freqüências adequadas ao uso da tecnologia - a Anatel chegou a promover um leilão no mês passado, mas ele foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União.

"Todos os dias, empresas pequenas e grandes, operadoras de telefonia e de TV a cabo manifestam interesse. O mercado está crescendo neste ano e em 2007 vai disparar", diz Ron Resnick, presidente do WiMax Forum, associação sem fins lucrativos cujo objetivo é promover a tecnologia.

O executivo foi um dos palestrantes do WiMax World, congresso realizado na semana passada em Boston, no Estado americano de Massachusetts. O próprio número de inscritos no evento foi apontado pelos participantes como sinal de que o interesse na banda larga sem fio está aumentando. Na edição realizada em 2004, havia cerca de 700 pessoas. Neste ano, foram mais de 5 mil.

O anúncio feito em agosto pela operadora americana Sprint Nextel de que investirá US$ 3 bilhões para construir uma rede baseada em WiMax aqueceu a indústria. Trata-se da maior aposta na tecnologia até agora. Porém, de empresas de menor porte - como a ClearWire, dos EUA, a WiMax Telecom, da Áustria e a Neovia, do Brasil - já movimentam o mercado.

"Os clientes corporativos estão literalmente batendo na nossa porta", diz o presidente da Neovia, Maurício Coutinho, que fez uma apresentação no evento. A operadora de banda larga sem fio foi criada em 2001 e , desde o ano passado, tem investido no WiMax, com uma rede que alcança 25 municípios de São Paulo.

Por enquanto, as operadoras utilizam o chamado WiMax nomádico, que permite o acesso à internet sem fio de maneira estática. Entretanto, a próxima e mais importante onda é a versão móvel da tecnologia, que está em desenvolvimento e possibilitará ao usuário se deslocar enquanto acessa a rede, assim como faz com o celular. É esse padrão que a Sprint adotará como alternativa à terceira geração da telefonia móvel (3G).

"O WiMax criará um novo modelo de negócios com internet embutida em diversos aparelhos eletrônicos", diz Sean Maloney, vice-presidente executivo e responsável pelas áreas de vendas e marketing da Intel. Interessada em ampliar as possibilidades de vendas de seus microprocessadores, a Intel tem sido um dos maiores patrocinadores da tecnologia. A aposta da companhia é de que o WiMax permitirá conectar à internet produtos eletrônicos como tocadores de MP3 e câmeras fotográficas.

Na semana passada, a Intel firmou parceria com a provedora de banda larga sem fio ClearWire - que tem 162 mil assinantes - para fazer os primeiros testes com WiMax móvel na América do Norte.

Em boa medida, são fornecedores como Intel e Motorola que têm encabeçado os esforços para emplacar a tecnologia e agitar um mercado que até agora não deu os resultados esperados com a 3G. O mantra entoado pelos fabricantes é o de que o WiMax permite o acesso à internet com velocidade maior e a um custo três vezes inferior ao das redes celulares.

Mais do que isso, a cruzada pró-WiMax é eminentemente americana. O principal motivo é que, nos Estados Unidos, a terceira geração da telefonia móvel desenvolveu-se menos do que na Ásia e na Europa. A tecnologia representa uma forma de o país pular essa etapa e correr atrás do prejuízo.

Resnick, do WiMax Fórum, sabe que o embate com a 3G será um dos principais obstáculos para que a tecnologia possa, de fato, deslanchar. "Onde já foram feitos investimentos significativos em 3G, as operadoras não vão desligar a rede e colocar o WiMax", admite.

"Não subestimem o poder da terceira geração", alerta o vice-presidente de relações com o governo e a indústria da alemã Siemens, Klaus Kohrt. "Acreditamos que a banda larga sem fio vai complementar e não canibalizar a 3G."

Mas esse não é o único entrave. Ainda falta um sistema mundial de roaming e, principalmente, hoje impera uma miscelânea quanto ao uso do espectro. Boa parte do mundo está destinando as faixas de 3,5 gigahertz (GHz) e 5,8 GHz à internet sem fio. Porém, outros países adotam outras freqüências, como é o caso dos EUA (2,5 GHz).

Essa multiplicidade é um erro, destaca Kohrt, citando o exemplo da telefonia móvel. Na Europa, onde os órgãos reguladores impuseram uma padronização de freqüência e tecnologia (GSM), os celulares estão nas mãos de 73,5% da população. Nos Estados Unidos, que escolheram a diversidade tecnológica, esse índice é de 54,1%.

A repórter viajou a convite da Motorola