Título: Decisão de licitar novos blocos surpreende executivos do setor
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2012, Brasil, p. A5

A decisão do governo de realizar a 11ª rodada de licitações de blocos exploratórios e a primeira licitação de áreas do pré-sal sob o regime de partilha de produção, desde que aprovada no Congresso a redistribuição dos royalties nos contratos de partilha, causou surpresa entre integrantes da indústria presentes no segundo dia da Rio Oil & Gas, maior feira do setor na América Latina.

Um dia antes, na abertura do evento, o secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Marco Antônio Martins de Almeida, havia deixado claro que as rodadas não tinham data para acontecer devido às discussões sobre a redistribuição dos royalties do petróleo, que estavam se arrastando no Congresso. A impressão geral é que o governo errou no "timing", principalmente porque a avaliação geral era de que a presidente Dilma Rousseff esvaziou o evento ao convidar a presidente da Petrobras, Graça Foster, para uma visita ao estaleiro Rio Grande, no sul do país, no dia em que a executiva mais importante do setor era esperada no Rio.

Oficialmente, os representantes do setor comemoraram. O diretor-geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Eloi Fernández, elogiou a decisão do governo. "Finalmente o setor foi ouvido e assim se garante a continuidade dos investimentos", disse, acrescentando que a medida ajuda na projeção de reforço do conteúdo local no longo prazo.

Um dos que mais criticaram, nos últimos meses, a ausência de rodadas de blocos exploratórios - a última ocorreu em 2008 e englobou apenas áreas terrestres -, o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos De Luca, afirmou que o Tesouro poderá engordar o caixa em pelo menos US$ 1 bilhão com os bônus de assinatura dos 174 blocos que serão oferecidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

"Se essa rodada na margem equatorial, em áreas de novas fronteiras, tivesse ocorrido há alguns anos, não teria tanto interesse. Mas desde a última rodada, houve descobertas importantes no leste da África, que tem semelhanças geológicas com a margem equatorial brasileira", disse De Luca.

O presidente da Repsol Sinopec no Brasil, Jose Maria Moreno, disse que a notícia veio "em boa hora", e apesar de a rodada acontecer apenas em maio de 2013, disse que sua expectativa da empresa é continuar participar de todos os leilões. "Ao menos fica uma data fixada. Esperamos que a questão dos royalties seja resolvida antes do fim do ano e que as áreas que forem colocadas na rodada sejam interessantes e desafiadoras para o maior número de empresas."

Muitas empresas já garantiram interesse em participar das licitações. O presidente da Shell Brasil, André Araujo, afirmou que a anglo-holandesa vai olhar com muita atenção as áreas que estarão disponíveis na 11ª rodada. "Torço para que a rodada marque a retomada da regularidade dos leilões", disse, lembrando o potencial do setor na geração de emprego e no desenvolvimento da cadeia de suprimento para a indústria.

Em nota, a ANP disse que definirá "nos próximos dias" os blocos que serão oferecidos.