Título: Oposição desiste de pedir investigação contra ex-presidente
Autor: Basile , Juliano
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2012, Política, p. A7

Os três principais partidos de oposição ao governo petista - PSDB, DEM e PPS - desistiram, ao menos temporariamente, de pedir ao Ministério Público Federal investigação sobre a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no "mensalão do PT", esquema de corrupção que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em nota divulgada ontem, os presidentes do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), do DEM, senador José Agripino (RN), e do PPS, deputado Roberto Freire (PE), afirmam que as revelações da revista "Veja" - segundo as quais o empresário Marcos Valério, estaria apontando Lula como chefe do esquema - exigem explicações imediatas e apuração por todos os meios legais.

No entanto, os oposicionistas avaliaram que uma representação ao Ministério Público poderia significar um fato jurídico novo, que poderia ser utilizado pela defesa dos envolvidos no mensalão para atrapalhar o julgamento. Na nota, os presidentes do PSDB, do DEM e do PPS afirmam que vão cobrar investigação, após o término do julgamento no STF.

Segundo a nota, os partidos de oposição estranham o "silêncio ensurdecedor" do ex-presidente sobre denúncias que o atingem diretamente. "O ex-presidente já não está mais no comando do país, mas nem por isso pode se eximir das responsabilidades dos oito anos em que governou o Brasil, ainda mais quando há suspeitas que pesam sobre o seu comportamento, no maior escândalo de corrupção da história da República", diz a nota.

E continua: "A gravidade das revelações da revista Veja impõe que ela torne públicos os elementos que sustentam a matéria "Os segredos de Marcos Valério". A oposição fará sua parte e, encerrado o julgamento em curso no STF, cobrará as investigações dos fatos ao Ministério Público."

A nota foi lida da tribuna do Senado pelo líder do PSDB, Alvaro Dias (PR). Ele lembrou que, ao final dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios, que trouxe à tona o caso de corrupção que ficou conhecido como mensalão, ele defendeu a abertura de processo de impeachment do presidente, por crime de responsabilidade.

Lembrou que não houve processo por falta de apoio popular. Segundo ele, foi um "equívoco histórico" das oposições não terem proposto o impeachment. "Tratava-se de uma séria denúncia e o dever se impunha ao presidente de não claudicar. (...) O presidente não tomou qualquer providência efetiva. Não exerceu as prerrogativas do seu cargo", disse.

Autor da denúncia do mensalão, o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza afirmou que não incluiu o ex-presidente no processo porque não havia provas contra ele. "Ninguém naquele momento fez afirmações que pudessem colocá-lo no enredo", disse. Para Souza, a matéria da "Veja" "não altera em nada" o processo. "Não li a entrevista, parece que é baseada em informações de amigos. E você tem que considerar que a pessoa que está fazendo as afirmações foi denunciada e está numa situação dramática, pelo menos", declarou Souza.

Durante seu discurso, Dias concedeu aparte ao senador Jorge Viana (PT-AC), que defendeu Lula e acusou o PSDB e o extinto PFL de terem criado o mensalão em 1998, durante gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, houve desvio de recursos públicos em troca de apoio parlamentar para aprovar a emenda que garantiu ao então presidente tucano o direito à reeleição.

O líder da bancada tucana reagiu. Segundo ele, não há paralelo entre os dos episódios. Além disso, afirmou que, se houve irregularidades em 98, isso não justificaria a "omissão" e a "complacência" com o que ocorreu em 2005, quando o PT governava o país.

"Mais do que antes, agora se comprova, pelos fatos veiculados pela imprensa no último final de semana, mas, sobretudo, pelo debate que se trava no Supremo Tribunal Federal, ter sido esse, sim, o maior escândalo de corrupção da história da República. "O mais sofisticado e complexo esquema de corrupção idealizado por uma organização criminosa em nome de um projeto de poder de longo prazo no país", como afirmou o ex-procurador da República Antonio Fernando de Souza, ou "o mais atrevido escândalo de corrupção", conforme afirma o procurador Roberto Gurgel", citou Dias.

Ele reafirmou que, assim que o julgamento terminar, a oposição protocolará representação ao Ministério Público, pedindo instauração de inquérito para investigar o envolvimento de Lula.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que na véspera manifestou cautela em relação às denúncias da revista "Veja", ontem voltou a atacar o PT. "O PT subverteu a regra elementar da República, de que os partidos devem estar a serviço do Estado, os partidos devem estar a serviço do pais. O PT inverteu essa lógica e colocou o país a serviço do PT, de um partido político e do seu projeto de poder. E a população está percebendo isso. Talvez, em razão disso, o PT está tendo dificuldades enormes em todas as capitais brasileiras."

O senador disse esperar que o julgamento do mensalão continue sendo "técnico como foi até aqui e estabeleça um novo patamar na política brasileira, onde aqueles que, eventualmente, circunstancialmente, ocupam o poder, não acham que são donos dele".

Aécio disse que, pelas informações de que dispõe, o PT lidera as intenções de voto das disputas nas capitais apenas em Goiânia.

Para o mineiro, o candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador Geraldo Alckmin estão confiantes de que a "queda eventual" do tucano nas intenções de voto se estancou e ele tem toda chance de estar no segundo turno. "Torço muito pelo Serra", disse. (RU e MM)