Título: Retomada da atividade gera 186 mil vagas em agosto, preveem analistas
Autor: Lorenzo , Francine De
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2012, Brasil, p. A2

A retomada da atividade econômica já aparece com mais força no mercado de trabalho que, em agosto, deve repetir o bom desempenho já visto em julho, segundo avaliação de economistas. De acordo com a média das projeções de sete instituições financeiras e consultorias procuradas pelo Valor Data, o país abriu 185,9 mil vagas no mês passado. As projeções variam de 162,3 mil a 206,9 mil novas ocupações no período. A média das estimativas fica aquém do resultado de agosto de 2011, quando 190,5 mil postos foram criados.

Para a taxa de desemprego, a expectativa média de seis economistas é que o indicador tenha se situado em 5,6% da População Economicamente Ativa (PEA) no mês passado, com projeções entre 5,4% e 5,9%. Se confirmada, a média ficará abaixo dos 5,8% registrados em maio, último dado nacional divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Devido à indisponibilidade das informações referentes a junho e julho, quatro instituições decidiram não projetar a taxa para agosto.

Os números de junho e julho só serão publicados hoje em função da greve de funcionários do IBGE, que prejudicou o processamento de dados. Também serão divulgados hoje os resultados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de agosto e os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, referentes ao período.

Pelas contas da LCA Consultores, foram abertos 206,9 mil postos de trabalho em agosto. Esse resultado, apesar de expressivo, representa o equivalente a 114,2 mil empregos, se descontados os efeitos sazonais. O pior momento para o mercado de trabalho neste ano, segundo o economista Caio Machado, foi em junho, mês em que foram geradas apenas 70 mil vagas, já considerando os ajustes sazonais feitos pela LCA.

Percepção semelhante tem Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. Para ele, a desaceleração econômica deve ter afetado o mercado de trabalho de forma mais pronunciada em junho, mas a partir de então a perspectiva é que a geração de empregos e a população ocupada tenham voltado a avançar, acompanhando a retomada da atividade. Sua estimativa para a taxa de desemprego em agosto é de 5,6% levemente inferior à projetada pela LCA, de 5,7%.

"As medidas lançadas pelo governo minimizaram as demissões na indústria e, ao mesmo tempo, temos indicadores que mostram que as vendas no comércio e serviços estão aquecidas, o que permite novas admissões", diz Machado. Para ele, a indústria vai voltar a contratar em breve, ainda que moderadamente, e a geração de empregos continuará sendo puxada pelos setores mais ligados ao consumo.

"As contratações não seguirão o ritmo de aceleração da economia. Assim como não houve um movimento de demissões quando a economia perdeu fôlego, também não veremos uma onda de contratações com o aumento da atividade. O crescimento do emprego será paulatino", diz Machado.

Os sinais de retomada um pouco mais forte e disseminada levaram Bacciotti a projetar avanço de 0,2% na população ocupada em agosto, ante quedas de 0,6% em junho e de 0,1% em julho em relação ao mês imediatamente anterior, considerando estimativas da Tendências. Ele ressalta que o emprego na indústria, por exemplo, foi beneficiado nos últimos dois meses por um desempenho mais forte de calçados e vestuário, setores para os quais a desoneração da folha está em vigor desde janeiro.

Em julho, o setor têxtil e de vestuário criou um total de vagas seis vezes maior que em julho de 2011. Nas empresas de calçados, o saldo de vagas abertas em julho superou em 16% igual período do ano passado, segundo o Caged.

Embora também veja no horizonte um quadro positivo para o mercado de trabalho, Leandro Padulla, da MCM Consultores, afirma que é necessário observar a evolução das contratações e demissões. Em julho, o saldo de abertura de postos de trabalho foi superior ao observado em igual mês do ano passado, em função da combinação entre crescimento menor das admissões e desaceleração mais forte dos desligados, o que pode ser explicado pela resistência das empresas em demitir, principalmente em momento percebido como de virada do ciclo de atividade.

"Temos que olhar como vai se comportar a composição do saldo. Em agosto, a retomada da economia foi mais forte, melhorou a confiança do empresário, então a expectativa é que as contratações mostrem reação", diz Padulla.