Título: Crescem aportes do BNDES no setor sucroalcooleiro
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Agronegócios, p. B12

Os números dos financiamentos feitos pelo BNDES ao setor sucroalcooleiro mostram que o país vive no setor uma verdadeira febre, agora fortemente estimulada de fora para dentro, semelhante aos primeiros anos do Programa Nacional do Álcool (Proálcool) no começo dos anos 80. Em 2005 e 2006 o banco desembolsou R$ 3,3 bilhões para financiar a construção de usinas, plantio de cana e para projetos de co-geração de energia elétrica. Do total, R$ 2,1 bilhões foram emprestados em 2006 e R$ 2 bilhões foram destinados à construção de usinas nos dois anos.

Em 2004, os empréstimos do BNDES para o complexo sucroalcooleiro somaram R$ 590 milhões, quase a quarta parte dos números de 2006. O banco tem em carteira 62 projetos, entre contratados e em fase de consulta, totalizando R$ 12,2 bilhões, dos quais financia ou financiará R$ 7,2 bilhões.

Os números levantados pelos técnicos da instituição mostram que hoje estão em construção no Brasil 100 novas usinas de álcool, com investimentos de R$ 10 bilhões. Até 2012, esses empreendimentos deverão elevar a capacidade de produção de álcool do país em quase 50%, passando de 17 bilhões para 25 bilhões de litros.

Se for levado em conta o interesses de países como EUA e Japão pela compra de etanol brasileiro, o aumento da produção será insuficiente para suprir a demanda. O BNDES avalia que o crescimento de 8 bilhões de litros frente aos números de hoje poderá ser absorvido pela demanda interna, dado o ritmo de produção de veículos "flex fuel", que usam indistintamente álcool ou gasolina.

As perspectivas de expansão da agroindústria sucroalcooleira são tão boas que o BNDES estuda um modelo de política industrial que priorize complexos produtivos nos quais o Brasil tenha vantagens comparativas em relação aos concorrentes internacionais para definir formas de estimular esses complexos. Um deles giraria em torno da produção de etanol e das máquinas e equipamentos necessários à expansão do setor.

Atualmente o banco financia até 80% dos projetos na área de bioenergia, incluindo a produção de etanol e também de biodiesel. O custo financeiro é equivalente à taxa de juros de longo prazo (TJLP) mais 1,5%. Para co-geração o financiamento chega a 100% para máquinas e equipamentos e 70% para os demais investimentos.

Segundo o BNDES, o setor sucroalcooleiro movimenta no Brasil cerca de R$ 40 bilhões por ano e gera 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos, incluindo 72 mil agricultores dedicados à produção de cana-de-açúcar. Existem hoje em operação 320 usinas, com capacidade para moer 400 milhões de toneladas de cana por ano.

Desse total, cerca de 50% são destinadas à produção dos atuais 17 milhões de litros de álcool por ano. Ontem, a diretoria do BNDES anunciou a aprovação de novo financiamento, de R$ 248,9 milhões, para a Usina Boa Vista S.A., destinado à implantação de uma destilaria em Quirinópolis, Goiás, com capacidade para moer 1,7 milhão de toneladas de cana por ano.