Título: TI européia desembarca no Brasil
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Empresas, p. B2

A tradicional hora da sesta, hábito mais do que saudável que os espanhóis costumavam alimentar após o almoço, é hoje um mito. "É, infelizmente", adiciona Carlos Eres, executivo responsável por controlar a unidade espanhola da GFT Technologies, empresa especializada em serviços de tecnologia da informação (TI). "Isso era comum quando as pessoas trabalhavam no campo, debaixo de um sol de quarenta graus", lembra. "Hoje o ar-condicionado e as novas tecnologias mudaram tudo."

Mudaram, inclusive, os rumos da GFT. A empresa de origem alemã, presente em oito países, está desembarcando no Brasil. A cidade escolhida para receber seu centro de serviços foi Sorocaba, interior de São Paulo. "É uma região próxima à capital, com muitas faculdades especializadas", diz Eres, que no momento discute redução de impostos com a prefeitura.

A partir da base no Brasil, a GFT quer oferecer serviços de TI para a América Latina, além dos EUA. A unidade irá se reportar à filial espanhola, país que hoje concentra a maior parte das operações globais da empresa, principalmente no setor financeiro. "Bancos são a nossa especialidade, não estamos em outro mercado", diz Eres.

Não foi apenas o potencial da região o que inspirou a abertura da filial. Desde 2003, a GFT atua no Brasil para atender um projeto de TI do Bradesco, o qual, de 2005 para cá, passou a contar com a parceria da integradora brasileira CPM.

A experiência tem agradado. Só com o banco brasileiro, a GFT faturou 5,8 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, o equivalente a 7% de suas vendas globais. Com a vinda definitiva para o Brasil, o escritório instalado em Alphaville, usado até agora para atender o Bradesco, será expandido.

Eres não fala em valor de investimento, sob o pretexto de ter ações negociadas na Bolsa de Frankfurt, mas afirma que fechará 2007 com cerca de 100 empregados no centro de Sorocaba. A vocação internacional da nova filial começou a ser testada na última quarta-feira. "Temos 18 pessoas que já estão atendendo as transações inglesas do Deutsche Bank", afirma.

Com receita de 121 milhões de euros em 2005, a empresa vai movimentar neste ano 170 milhões de euros. O objetivo, diz Eres, é manter o ritmo de crescimento, com o Brasil representando até 10% das operações globais nos próximos anos.

Mercado não falta. Os gastos em TI pelos bancos, apontam os dados da Febraban, atingiram R$ 13 bilhões em 2005, crescimento de 4,2% sobre o ano anterior. Os investimentos - aquisição de novos sistemas e infra-estrutura - chegaram a R$ 4,6 bilhões.

Para o espanhol Carlos Eres, são razões de sobra para abrir mão de três ou quatro horas diárias de sono, perdidas numa boa espreguiçadeira.