Título: Balança comercial de aparelhos eletrônicos pode ter déficit este ano
Autor: Facchini, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Brasil, p. A2

Com a valorização do real e a invasão de mercadorias chinesas, a balança comercial de aparelhos eletrônicos de consumo corre o risco de fechar deficitária neste ano. Desde 1998, pelo menos, isto não acontece. De acordo com levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros), o saldo vem encolhendo rapidamente. Nos oito primeiros meses de 2006, ele ficou positivo em apenas R$ 24,2 milhões. Esse valor equivale a 15% do saldo obtido entre janeiro e agosto de 2005, de R$ 156,6 milhões.

Uma importação maior de produtos para o Natal pode ser suficiente para fazer com que a balança fique negativa. Só em aparelhos de DVD, o Brasil importou US$ 127 milhões nos oito primeiros meses do ano, valor 30% superior ao adquirido em igual período do ano passado, de acordo com a Eletros.

O maior problema não está nas exportações e sim nas importações. A demanda por bens duráveis no mercado interno cresceu este ano devido à maior oferta de crédito nas lojas e ao aumento na massa salarial. Mas os números indicam que não são as indústrias instaladas no Brasil que estão tirando proveito da retomada do consumo. Pelo contrário. Algumas empresas passaram a importar em vez de fabricar localmente. Só no setor de linha marrom, as importações cresceram 33,7%. No segmento de portáteis, o aumento nas importações foi de 86,6% até agosto.

A linha branca é o único setor superavitário, mas também neste mercado as importações preocupam. Nos oito primeiros meses, entraram no país US$ 51 milhões destes eletrodomésticos produzidos no exterior, cifra 127% maior que em igual período de 2005.

As indústrias ainda se esforçam para manter as vendas externas e os clientes internacionais conquistados no decorrer dos últimos três anos. As exportações de linha branca totalizaram US$ 293,8 milhões até agosto, valor basicamente igual ao de 2005. Na linha marrom, as vendas externas somaram US$ 87,4 milhões e também ficaram estáveis. Mas, no segmento de eletroportáteis, já há uma queda de 13% nas exportações até agosto.

Paulo Saab, presidente da Eletros, critica o governo por não apoiar as indústrias que realizaram investimentos diretos no Brasil nos últimos anos. "Os fabricantes instalados no país mantêm suas vendas no mercado externo graças à qualidade dos produtos, mas isso não é suficiente para aumentar as exportações". Segundo Saab, os acordos comerciais firmados pelo governo, que privilegiam países pobres, também não ajudam o setor. Com a Argentina, por exemplo, o Brasil não conseguiu derrubar as barreiras comerciais.