Título: Ação vira moeda forte em aquisições no Brasil
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Empresas, p. B2

Uma nova moeda vem sendo usada nas operações de aquisições no Brasil. No lugar de milhões de reais, as companhias começam a utilizar suas ações como forma de pagamento.

As bilionárias aquisições da Brasil Ferrovias, pela ALL, e da Vivax, pela Net, foram feitas a partir da troca de ações. Em vez de assinar um cheque, os acionistas deram parte de suas ações aos controladores das empresas adquiridas.

O BNDES e os fundos de pensão Funcef (Caixa Econômica Federal) e Previ (Banco do Brasil) receberam papéis da ALL. Mas não poderão vendê-los por um ano. Os controladores da empresa de logística, por sua vez, tiveram sua participação acionária diluída em cerca de 20% com a operação que movimentou R$ 1,4 bilhão. A vantagem para a empresa ao optar por esse modelo de operação foi manter seu caixa de R$ 1 bilhão livre para investimentos.

O surgimento dessa nova moeda de troca marca uma evolução do mercado acionário brasileiro. "Isso não aconteceria se o comprador não achasse que seus papéis estivessem bem cotados e nem se o vendedor não tivesse liquidez para se desfazer das ações", explica Raul Beer, sócio da PricewaterhouseCoopers.

O executivo explica que nos Estados Unidos essa é a modalidade mais utilizada nas aquisições. Em vez de captar recursos no mercado para depois ir às compras, as empresas primeiro encontram um alvo e depois oferecem suas ações como pagamento.

"Os investidores preferem reagir a uma situação concreta a dar dinheiro a uma companhia só acreditando na história de crescimento que ela conta", diz Beer.

Para as companhias, vender ações para depois realizar as aquisições também pode ser arriscado. Se no meio do caminho algo atrapalhar seus planos de crescimento e o projeto não se concretizar, a empresa pode cair no descrédito. E ela terá que arrumar outra freguesia para aplicar o seu caixa. (CM)