Título: TI e serviços lideram onda de consolidação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Empresas, p. B2

Não é por acaso que os setores de tecnologia da informação e serviços vêm sendo grandes protagonistas nas ondas de consolidação mais recentes. Para esses segmentos, nos quais é muito complicada a alavancagem por meio de dívida tradicional ou de debêntures, captar no mercado significou o empurrão que faltava para crescer.

Um caso clássico de empreendedorismo a partir das ferramentas disponíveis no mercado de capitais é a Totvs. A empresa que recebeu investimentos de fundo de private equity e do próprio BNDES, mas por meio da área de mercado de capitais. Com isso, deu a largada e foi tão bem-sucedida que logo recomprou a parcela investida pelo fundo e ainda deu início a compras de concorrentes, como a Logocenter, mesmo antes da oferta pública.

"Com parte dos R$ 460 milhões captados na ofertas, compramos, um mês depois, a RM Sistemas", lembra José Rogério Luiz, vice-presidente e responsável pela área de relações com investidores da Totvs. "O mercado foi essencial para nós, pois o endividamento no setor de tecnologia não é usual, uma vez que ainda há dificuldade em avaliar ativos intangíveis", conta. Por saber disso, três anos antes da abertura de capital, mesmo com o marasmo que ainda reinava no mercado, a Totvs (ainda Microsiga, na época) já montava sua área de relações com os investidores.

Para a Medial Saúde, ir à bolsa neste ano para captar recursos foi o único caminho que a operadora enxergou para conseguir crescer de forma rápida por meio de aquisição de concorrentes ou de prestadores de serviço. "O setor de saúde em si já embute um risco elevadíssimo. Não daria para pensarmos em ainda endividar a companhia. No mundo inteiro, as empresas da área de saúde são muito pouco endividadas", explica Luis Kaufmann, presidente da Medial Saúde.

Segundo Bruno Soter, sócio do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, alguns setores da economia brasileira - principalmente na área de serviços - ainda são bastante pulverizados, o que abriu espaço para algumas empresas se capitalizarem para sair às compras. "Isso mostra um amadurecimento da economia como um todo. É preciso passar por uma consolidação para que os participantes se tornem mais fortes e conhecidos", avalia.

Além disso, ele explica que usar o caminho das fusões e aquisições para consolidar um setor é a maneira mais rápida de crescer. "Essas operações propiciam um salto no crescimento e é isso o que o investidor quer ver." Para ele, quem ainda não tem porte para ir à bolsa se capitalizar e partir para as aquisições tem dois caminhos pela frente: ou será comprado por alguém que esteja com o caixa gordo ou partirá para uma fusão com alguém do mercado que esteja nas mesmas condições e queria se fortalecer.

Depois que estreou na bolsa de valores em setembro do ano passado, a Cyrela já incorporou a RJZ do Rio e firmou parcerias com outras seis empresas em diversos Estados. Algumas dessas joint ventures podem acabar evoluindo para futuras incorporações ou aquisições.

"Por meio desses processos, a Cyrela encontrou um atalho para crescer. A vantagem é que nos associamos a um parceiro que já tem terrenos e o conhecimento daquele mercado onde atua", afirma Luis Largman, diretor de relações com investidores da Cyrela. "Se não tivéssemos ido ao mercado de capitais, o crescimento da empresa se daria de forma bem mais lenta." (CV e CM)