Título: Vale vai acelerar investimentos no Canadá
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Empresas, p. B6

Uma das prioridades da Vale do Rio Doce, depois de efetivar hoje a bilionária aquisição da Inco, é manter e até acelerar os programas de investimentos da mineradora canadense em seu projetos de níquel, como a mina Voisey's Bay, na região de Labrador, noroeste do país. "A idéia é concluí-los o mais rápido possível, porque o mercado de níquel está muito bom, precisando do metal. Vamos aproveitar o bom momento de demanda e preços do metal no mercado internacional", afirmou Roger Agnelli, presidente da Vale e chairman da nova companhia, CVRD Inco.

Um dos entendimentos da Vale com o governo canadense foi manter o compromisso de expansão dessa área de extração de níquel, com o investimento em uma nova refinaria do metal. Havia um acerto com a comunidade local para até 2011. A Vale estuda antecipar isso em um ano a 18 meses.

A Inco, neste ano, já opera ao ritmo de produção de 250 mil toneladas e a projeção é chegar a 300 mil toneladas até o fim da década.

"Nossa intenção é não mexer nos acordos que foram compromissados entre a Inco e governos de províncias para tocar alguns investimentos. Esse acordos serão respeitados", afirmou Agnelli. Segundo o executivo, os recursos são garantidos pela geração de caixa da companhia. Além disso, quer contar com muita disciplina nos custos e com resultados de investimentos que estão entrando em operação e começam a gerar caixa. "Tranqüilamente, poderemos digerir esse endividamento de curto prazo e rapidamente voltar aos níveis de alavancagem de junho, no máximo em dois a três anos".

Segundo Agnelli, a Inco vai agregar à Vale um importante ativo - a tecnologia industrial de produção de níquel, que exige uma sofisticação maior que outros metais, e conhecimento desse mercado. eles têm conhecimento, tecnologia e níquel é uma indústria que requer muita técnica sofisticada. "Eles detém isso, que vai trazer benefícios para a implantação dos projetos no Brasil. No mínimo, reduzir o risco de implantação desses projetos da Vale", afirmou. A mineradora está bem avançada com os projetos de Onça Puma e Vermelho, ambos no Pará.

O executivo da Vale, que assumiu o comando da empresa em 2001, informou uma das medidas foi promover o diretor de operações da Inco na Europa, Marc Cuttifani, ao cargo de diretor geral de operações da CVRD Inco, em substituição a Peter Jones, que se aposenta no fim do ano. "Ele é um australiano que reside no Canadá há cinco anos e vive em Sudbury, onde tem forte relacionamento com a comunidade local. Eu diria que ele já é canadense".

O atual chairman e principal executivo, Scott Hand, manterá o segundo cargo, pelo menos nos próximos 90 dias. " Não queremos mexer na atual estrutura nesse período para poder conhecer bem a companhia, que vive um momento muito bom, que está crescendo, ganhando dinheiro, está com uma estratégia bem definida". A Vale está criando uma estrutura de comitês para poder nesse tempo definir o orçamento de 2007 e o plano estratégico da CVRD Inco.

Para Agnelli, não traz preocupação à Vale o nível diferenciado de benefícios que têm os operários da Inco no Canadá em relação aos de um país de terceiro mundo. "Há mesmo realidades diferentes, mas a Inco adota a mesma prática existente no mercado canadense. No Brasil, eu diria que fazemos até um pouco acima do que é feito no país. Cada país tem as suas condições".

Sobre seus próximos passos, o executivo disse que a meta é trabalhar para fazer o orçamento conjunto de 2007, definir o plano estratégico e reduzir a dívida o mais rápido possível.

Agnelli está otimista que até 3 de novembro, próximo prazo para a adesão dos 24,4% de acionistas restantes da Inco à oferta da Vale, chegará a pelo menos 90% mais uma ação. Na segunda-feira, até meia-noite, 75,6% depositaram suas ações. "Com isso, até o fim do ano compramos tudo e podemos fazer o fechamento de capital da empresa. Caso contrário, vamos demorar quatro meses para chegar aos 100%, que é nossa meta". Ele disse que há mais uma parte de ações em trânsito. "Adiamos para dar tempo que essas ações possam ser registradas". (Colaboraram Vera Saavedra Durão, do Rio, e Patrícia Nakamura, de São Paulo).