Título: Selic pode ter novo corte de 0,5 ponto
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2006, Finanças, p. C1

A ata da reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, mantém uma porta aberta para um novo corte de 0,5 ponto percentual nos juros básicos, hoje em 13,75% ao ano, no próximo encontro da instituição, em novembro. O documento praticamente reproduz trecho, usado em atas anteriores, que diz que "a preservação de conquistas no combate à inflação (...) poderá demandar que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia".

Pode parecer contraditório que, justamente num momento em que o BC renova a ameaça de maior parcimônia, participantes do mercado considerem que são grandes as chances de os cortes na taxa Selic serem mantidos no ritmo de 0,5 ponto. É que a palavra "parcimônia" já foi usada outras vezes, e a redução do ritmo de cortes de juros não aconteceu. O discurso do BC nos últimos meses é que já reduziu muitos os juros (6 pontos percentuais desde setembro de 2005) e que os efeitos dessas decisões ainda não teve tempo de chegar à atividade econômica e aos preços. Mas o que se viu foram cenários inflacionários cada vez mais positivos.

Por isso, analistas procuravam enfatizar o fato de que a ata não descartava cortes maiores nos juros, ao dizer que "poderá" ser necessária maior parcimônia. "Se os dados daqui por diante mostrarem inflação baixa e ritmo moderado de crescimento, o BC cortará os juros em 0,5 ponto", avalia o economista da SulAmérica Investimento, Newton Rosa. Ele, como a maior parte do mercado, apostava num corte de 0,25 ponto, segundo mostra a pesquisa do BC de expectativas. Com a divulgação da ata, Rosa cogita mudar sua projeção.

O economista-chefe da ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, que também aposta em um corte de 0,5 ponto, afirma que a evolução de dois indicadores será fundamental - o petróleo e as expectativas de inflação para 2007, que estão em 4,17%, abaixo da meta, fixada em 4,5%. "A exemplo do que já está ocorrendo em 2006, a contribuição da demanda externa para o crescimento seguirá negativa em 2007", afirma. "O BC terá que dar estímulos adicionais para a demanda para que o crescimento da economia não fique muito abaixo do potencial."

Economistas notaram que, na ata divulgada ontem, o BC divulgou um quadro muito mais favorável que os anteriores. Penteado chama a atenção para o fato de que os modelos de previsão do BC projetam inflação ainda mais baixa para 2007, período considerado relevante para as decisões de políticas monetária.

O economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset, divulgou análise em que sublinha a redução da projeção do BC para os preços administrados em 2007 - antes, era 6,1% e, agora, 5,7%. Também chamou a atenção do economista um trecho da ata em que o BC, ao comunicar que chegou a avaliar um corte 0,25 ponto percentual na taxa básica, diz uma decisão como essa "contribuiria para aumentar a magnitude total do ajuste a ser implementado". Póvoa diz que a frase parece indicar que, mesmo que os cortes de juros sejam desacelerados de 0,5 para 0,25 ponto, haveria espaço para prosseguir com o afrouxamento monetário.

Outra leitura possível é que o BC tivesse apenas feito a apologia do gradualismo na política monetária. O BC tem repetido que, quando age com cautela, minimiza erros, reduzindo a volatilidade nas suas decisões. Assim, cortes menores levariam, no fim das contas, a um juro menor.