Título: Roberto Requião vence disputa voto a voto no Paraná
Autor: Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A12

Na disputa mais acirrada da história do Paraná, o governador licenciado Roberto Requião (PMDB) foi reeleito e deverá assumir em janeiro de 2007 seu terceiro mandato à frente do Estado. Ele conquistou 50,1% dos votos válidos e o candidato derrotado, o senador Osmar Dias (PDT), ficou com 49,9%. A diferença entre os dois foi de apenas 10.479 votos.

Durante a apuração Osmar Dias liderou do início até a contabilização de 98% dos votos. Por volta de 19h foi registrado o empate e, logo depois, Requião assumiu a dianteira. Com discurso voltado para o social, o governador licenciado conseguiu virar o jogo justamente em pequenos municípios pobres, alguns deles da região metropolitana de Curitiba, onde os votos foram contabilizados mais tarde.

Como aconteceu no primeiro turno, o resultado final foi diferente do apresentado nas pesquisas. A boca-de-urna do Ibope apontou 53% dos votos para Requião e 47% para Osmar. No sábado, pesquisa do mesmo instituto dava 52% para o pemedebista e 48% para o pedetista. Nesse caso, como a margem de erro era de dois pontos percentuais, o empate chegou a ser previsto. No levantamento do Datafolha, também divulgado no sábado, o resultado foi de 53% contra 47%.

Mas os dois candidatos estavam céticos em relação às pesquisas. Ontem pela manhã, antes de viajar para Maringá, Noroeste do Estado, onde votou, Osmar disse que não acreditava nelas. Requião falou o mesmo. "A grande pesquisa é hoje", afirmou o governador reeleito, que confessou ter segurança no resultado.

Mesmo no dia da eleição os candidatos mantiveram as trocas de agressões vivenciadas nos últimos dias da campanha. Durante a madrugada a parede do Colégio Júlia Wanderley, onde Requião vota, foi pichada com acusação contra ele. "Aqui vota o maior mentiroso do Paraná", estava escrito. Quando o governador chegou, a pichação já estava apagada. Questionado sobre o assunto, o pemedebista foi agressivo. "Isso é típico dos canalhas que se opõem a mim."

Depois Requião foi para a Granja do Canguiri, residência oficial do governo, para esperar o resultado. Quando os primeiros números foram divulgados, a diferença entre os dois candidatos era de quase três pontos percentuais e Osmar estava na frente, principalmente porque venceu em cidades importantes do Estado.

Em Curitiba, tendo o prefeito Beto Richa (PSDB) como cabo eleitoral, o pedetista conseguiu 50,03% dos votos - no primeiro turno Requião venceu a disputa na capital. Em Londrina, Osmar conseguiu 71% e, em Maringá, 57%. Conforme a contagem avançou em cidades menores, a vantagem de Osmar diminuiu e começou a comemoração de cabos eleitorais de Requião no TRE.

Com o resultado da eleição definido, Requião deu entrevista para a estatal TV Educativa e questionou tanto o resultado das pesquisas como das urnas eletrônicas. "Sempre fui desconfiado das urnas eletrônicas", disse. "Não descarto manipulação", acrescentou. Na opinião dele, as diferenças entre as pesquisas científicas e o resultado das urnas deve ser estudado.

O governador eleito só deve se pronunciar oficialmente sobre a reeleição hoje. Ele informou que deve tirar alguns dias de férias antes de reassumir o cargo. Também avisou que vai processar as pessoas que o agrediram durante a campanha. "Fui muito agredido. Jogaram muito duro."

Requião tem 65 anos e é advogado e jornalista. Ele já governou o Paraná de 1991 a 1994. Para conquistar o segundo mandato, virou o jogo nas eleições de 2002. No primeiro turno daquela eleição, o irmão de Osmar, o senador Álvaro Dias, fez 31,4% dos votos e Requião conseguiu 26,18%. Com a ajuda do presidente Lula e do PT, ele venceu o segundo turno com 55,15% dos votos.

Em 2006, Requião esperava vencer no primeiro turno, mas conseguiu 42,8% dos votos, contra 38,6% de Osmar. Novamente ele contou com o apoio do PT. Mesmo depois de ter sido criticado por Requião, que dizia não concordar com a atual política econômica, Lula pediu votos para ele. Questionado sobre como será a partir de agora a relação entre os dois, o governador afirmou: "Vai ser excelente, tão boa quanto é hoje".