Título: Heloísa Helena ataca "banditismo político" do governo
Autor: Santos, Chico e Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A17

A presidente nacional do P-SOL, senadora Heloísa Helena, afirmou ao Valor que não considera a continuidade das investigações do "banditismo político" do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um terceiro turno da eleição encerrada ontem, mas "uma obrigação, sob pena de crime de prevaricação". De acordo com ela, as investigações precisam prosseguir, sem preocupação sobre o impacto político do resultado final.

Mas Heloísa Helena manifestou descrédito quanto à disposição do PT e do PSDB, que polarizaram o pleito presidencial, para esse prosseguimento. "Acho que eles acabam se ajeitando, como fizeram no passado, e não investigando nada", disse a senadora. E acrescentou: "Mas nós [do P-SOL] podemos. Nossa obrigação é investigar, tanto crimes contra a administração pública, como foram as privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso, como o banditismo político e também as privatizações do governo Lula".

A senadora concedeu entrevista por telefone, de Alagoas, antes de conhecer o resultado final da eleição, e por isso não quis ser específica sobre a posição do P-SOL em relação ao futuro governo. Mas não escondeu sua posição antagônica: "Nós fazemos oposição ao projeto neoliberal representado pelas duas candidaturas". Heloísa Helena também reforçou sua expectativa quanto a um "acordão". E afirmou que o governo Lula, quando começou, "entregou um atestado de integridade do governo Fernando Henrique porque não fez nada [para investigar supostas irregularidades]"..

De acordo com ela, continuar investigando, em todas as instâncias investigatórias possíveis, "é uma obrigação constitucional, e não provocar um terceiro turno". O deputado federal Chico Alencar, um dos três parlamentares eleitos pelo P-SOL nessas eleições, também argumentou que as investigações devem ter prosseguimento: "Sem anistia, mas sem golpismo", disse ele. Alencar afirmou que seu partido terá uma posição crítica, sem adesismo e nem qualquer possibilidade de integrar a base parlamentar no próximo mandato do presidente Lula.

"Queremos que a política de desenvolvimento seja centrada no investimento, no setor produtivo e na distribuição de renda mais do que na preocupação com os credores da dívida interna", afirmou o deputado federal do Estado do Rio de Janeiro.

Ele afirmou que o partido está empenhado em formar um bloco parlamentar com PV e PCdoB para superar a cláusula de barreira (limite para que os partidos tenham plenos direitos). Conforme Alencar, 2007 será o ano de organização do P-SOL pela base e da realização do primeiro congresso nacional do partido, que conta com cerca de 25 mil filiados, três deputados e terá um senador - com a vitória da petista Ana Júlia na disputa para o governo do Pará, sua cadeira no Senado será ocupada pelo primeiro suplente Nery Silveira, do P-SOL.

Para a deputada federal gaúcha Luciana Genro, a eleição mostrou que existe espaço para crescimento do P-SOL no país. "O eleitorado de Heloísa Helena é o eleitorado potencial do P-SOL", resumiu a parlamentar. A senadora teve 6,4 milhões de votos no primeiro turno do pleito presidencial e ficou em terceiro lugar, com 6,85% dos votos válidos.

Luciana defende uma oposição "implacável" ao governo Lula e faz coro pela continuidade das investigações iniciadas com o surgimento do dossiê contra os tucanos. Segundo ela, se houver um fato novo que comprometa o presidente Lula, algo que desse margem a impeachment, seria preciso que o processo fosse decidido em um processo mais amplo do que o Congresso, como um referendum ou plebiscito.