Título: Dilma intervém por apoio do PMDB a Haddad
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2012, Política, p. A6

O PMDB deve anunciar hoje apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT) a prefeito de São Paulo, apesar das divergências que durante todo o dia de ontem ameaçaram um entendimento pré-eleitoral entre as duas siglas. O ato contará com a presença de Haddad e do candidato derrotado Gabriel Chalita (PMDB). O anúncio deveria ter sido feito ontem, mas foi adiado por reclamações do PMDB pela ausência de contrapartida do PT, especialmente em Natal, a capital do Rio Grande do Norte (RN).

A crise chegou a ser classificada como "grave" no Palácio do Planalto, onde fontes diziam que os projetos locais do PT não deveriam atrapalhar o projeto Dilma em 2014. Mas na cúpula do PMDB, à exceção do líder Henrique Alves, que é de Natal, as avaliações eram no sentido da acomodação. Segundo um ministro, Henrique Alves deveria entender que a "neutralidade" na eleição de Natal é um compromisso da presidente e não do PT.

Ontem mesmo o governo começou a desatar, por exemplo, as nomeações combinadas com os partidos. O ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi confirmado para o lugar que Marcelo Neri, presidente do Ipea, ocupava na Fundação Getulio Vargas. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deve emplacar mais uma nomeação na área do turismo, onde já está o maranhense Gastão Vieira Lima.

Em Natal, a presidente prometeu neutralidade no caso de disputa entre aliados. Ao contrário das previsões, passaram para o segundo turno os candidatos Carlos Eduardo Alves (PDT) e Hermano Moraes (PMDB) - o PT, que estava bem cotado, ficou de fora e resolveu apoiar o candidato do PDT, o que levou o líder Henrique Alves a criticar duramente o PT e atrasar o anúncio do apoio a Haddad em São Paulo.

Carlos Eduardo Alves teve 40,4% dos votos, bem à frente dos demais concorrentes. A briga ficou pelo segundo lugar. Moraes acabou com 23%, seguido de perto por Fernando Mineiro (PT), com 22,6%. Um acordo com os petistas, portanto, pode equilibrar a disputa

Henrique Alves questionou como o PDT podia anunciar apoio a José Serra (PSDB) em São Paulo, mas ser apoiado pelo PT em Natal. O parlamentar, inclusive, teria ligado para o vice-presidente Michel Temer no domingo para pedir que não fechasse um acordo em São Paulo sem antes negociar em outros Estados.

O PMDB ainda se queixava do anúncio de um desembarque em grande escala dos maiores figurões petistas, como Lula e Dilma, em Mauá, na Grande São Paulo. Já no final do dia, a sinalização era de uma participação mais moderada dos nomes nacionais na campanha da cidade, onde Donisete Braga (PT) enfrentará Vanessa Damo (PMDB).

O apoio de Geddel Vieira Lima, um dos vice-presidentes da Caixa, ao candidato do DEM, ACM Neto, em Salvador, também alimenta a crise. Por trás da reação do PMDB e do governo estão a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados e o crescimento do PSB, que credencia o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a uma eventual candidatura presidencial em 2014.

A presidente ficou incomodada com o tom dos discursos na reunião da Executiva Nacional do PSB, ontem à tarde, inclusive o do governador, por isso queria apressar o acerto com o PMDB. Henrique Alves, por sua vez, além da eleição de Natal lhe interessar diretamente, tem um acordo com o PT para presidir a Câmara, a partir de 2013. A cúpula do PMDB insiste na cobrança para ressaltar também a fama segundo a qual o PT é um partido que não cumpre acordos.

Apesar do impasse em Natal e Mauá, os dois partidos conseguiram chegar a um consenso em Florianópolis (SC), Guarujá (SP) e Sorocaba (SP). O acordo costurado por Lula e Temer na capital paulista também prevê a participação do PMDB em um eventual governo de Haddad e a incorporação de pontos do programa de Chalita pelo PT, como escola em tempo integral, Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), Centro de Monitoramento de Segurança e o Expresso Zona Leste, que fará o trajeto Itaquera-Praça da Sé.

A confirmação do apoio a ACM Neto foi feita pelos irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima, que comandam o partido na Bahia. O PMDB não recebeu da presidente qualquer proposta política futura ou oferta de espaço para apoiar Nelson Pelegrino.

Geddel afirmou que não vai pedir demissão da Caixa, porque não há motivo para isso. "A mesma realidade que existia quando aceitei o cargo se mantém: o PMDB era aliado do PT no governo federal e oposição na Bahia", disse. E completou: "Se o PMDB decidisse apoiar Pelegrino aí é que eu teria de pedir demissão, para não dizerem que troquei apoio por cargo."

Segundo Geddel, o apoio do PMDB ao DEM em Salvador não significa ameaça à participação do partido na base de Dilma. "Para 2014, defendo a manutenção da aliança nacional com o PT e a reeleição da presidente Dilma", afirmou.

O ex-prefeito Mário Kertész, que disputou a Prefeitura de Salvador e ficou em terceiro lugar, com quase 10% dos votos, vai pedir desfiliação do PMDB e anunciar opção pessoal pela candidatura de Pelegrino.