Título: Aliados disputam presidência da Eletrobrás
Autor: Costa, Raymundo e Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2007, Política, p. A6

O engenheiro Aloísio Vasconcelos, que deixou o comando da Eletrobrás, praticamente acertou a sua ida para a presidência da subsidiária brasileira da Alstom, líder mundial na produção de equipamentos para usinas de geração de energia e para transporte ferroviário. Ele deverá assumir o cargo em abril, depois de cumprir período de quarentena. Vasconcelos, ex-deputado federal pelo PMDB e integrante do secretariado de Itamar Franco no governo de Minas Gerais, era presidente da estatal desde julho de 2005.

O cargo está sendo ocupado interinamente pelo diretor de engenharia, Valter Luiz Cardeal, e é cobiçado até por envolvidos na máfia dos sanguessugas. O senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que não se reelegeu, tenta emplacar a engenheira Aracilba Rocha no lugar de Vasconcelos. Ela ocupa atualmente a diretoria de administração da Eletrobrás e chegou a dar entrevista, a um jornal paraibano, como presidente interina da estatal - cargo para o qual acabou não sendo indicada.

Fontes próximas ao Palácio do Planalto avaliam que são remotíssimas as chances de Suassuna, recém-absolvido de um processo no Conselho de Ética do Senado e com influência em baixa no partido, de conseguir a indicação da segunda maior estatal do país. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, já recebeu aval do senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), seu padrinho político, para continuar na Pasta durante o segundo mandato de Lula. Rondeau também se aliou à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), ex-titular da Pasta. Sarney ainda deverá acertar a permanência de Rondeau com Lula.

Não há esperanças no PMDB, porém, de receber o ministério de "porteira fechada". O partido reconhece que não tem como ganhar muito espaço na Petrobras, dominada pelo PT, e sabe que encontrará "escudos" em outras estatais. Na Eletrobrás, por exemplo, Valter Cardeal goza da confiança de Dilma Rousseff. Depois de sair do Ministério de Minas e Energia, deixou lá parceiros estratégicos.

O secretário-executivo do ministério, Nelson Hubner, e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, são seus aliados incondicionais. Na Eletronorte, o presidente Carlos Nascimento é indicação do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) e o diretor financeiro, Astrogildo Quental, é ligado também a Sarney. Mas Dilma continua monitorando a empresa por meio do diretor de engenharia, Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro da Fazenda.

No comando da Eletrobrás, Vasconcelos foi visto pela ministra como um executivo de posições excessivamente fortes e pouco conciliador. Bateu pesado no Ibama e no Ministério do Meio Ambiente, além de ter entrado em conflito com seus colegas da cúpula da estatal.

A conformação do novo quadro dirigente do Ministério de Minas e Energia deve ficar para fevereiro, depois da eleição para a presidência da Câmara, hoje disputada por dois aliados - Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mais convencido do que nunca de que acertou ao não nomear o novo ministério no dia 1º de janeiro. Isso, avalia-se no Planalto, teria elevado ainda mais a temperatura na Câmara, com os insatisfeitos com a reforma ministerial jogando contra o governo.

O PMDB provavelmente manterá os mesmos ministérios que detém atualmente - além de Minas e Energia, os da Saúde e o das Comunicações - e mais um para a Câmara dos Deputados. Assim, os pemedebistas contariam com quatro em vez dos seis ministérios que reivindicavam inicialmente. O ex-ministro Delfim Netto deve ir para o governo, mas, se realmente for designado para um cargo formal, deverá ser na cota pessoal de Lula e não do partido. Delfim continua cotado para ser uma espécie de conselheiro econômico, com gabinete no Planalto.