Título: Aldo e Chinaglia fecham cerco sobre o PMDB
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2007, Política, p. A4

O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), reforçaram ontem a ofensiva sobre o PMDB, em busca de apoio a suas respectivas candidaturas à presidência da Casa para o próximo biênio.

Com 89 deputados federais eleitos, o PMDB será o maior partido da Câmara, seguido pelo PT, com 83 parlamentares. Em Brasília, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP) conversou com os dois candidatos e disse que a bancada do partido terá reunião provavelmente no dia 9, para decidir que posição tomar na eleição da Mesa.

Assim como o governo, Temer defendeu negociação entre os partidos para que a Câmara tenha uma candidatura única, de consenso, evitando disputa em plenário. No PMDB, há setores postulando candidatura própria. O deputado Eunício Oliveira (CE) tem dito que lançará seu nome, caso sejam mantidas as duas candidaturas da base governista.

Aldo, cujo partido terá apenas 13 representantes na Câmara, chamou Temer para uma conversa em sua residência oficial. Acenou com a possibilidade de apresentar o acordo - proposto anteriormente ao PMDB pelo PT por carta - prevendo o revezamento na presidência da Câmara na próxima legislatura (2007 a 2010).

Pelo acordo, Aldo presidiria no primeiro biênio e, em troca, os partidos que o apóiam hoje se comprometeriam a votar a favor de um pemedebista para os dois anos seguintes. O deputado do PCdoB disse a Temer que a elaboração de um documento com essa proposta dependeria de consulta aos partidos que o apóiam. Formalmente, apenas o PSB (28 deputados) apóia Aldo, além do PCdoB.

Considerado por governistas como o candidato preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que se mantém formalmente distante da disputa -, Aldo tem aliados em outros partidos, inclusive da oposição. Um deles é o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ). "Defendo minha candidatura como uma candidatura da instituição, capaz de reunir os partidos da base do governo e os da oposição", disse.

Na semana passada, Temer recebeu carta assinada por Chinaglia e pelo então presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, propondo igual revezamento entre PT e PMDB. O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que reassumiu o cargo, telefonou a Temer reafirmando o compromisso.

Depois da conversa com Aldo, Temer foi para seu gabinete da Câmara, onde recebeu Chinaglia. O candidato petista ironizou a suposta intenção de Aldo de usar seu acordo político como modelo. "Isso significa que nós fizemos movimento político correto, na época certa", disse.

Segundo ele, como candidato de um partido pequeno, Aldo não poderia cumprir o compromisso de revezamento. "O acordo que estamos costurando com o PMDB já há algumas semanas é intransferível, porque se trata de um acordo das duas maiores bancadas", afirmou.

Chinaglia não quis falar sobre a possibilidade de abrir mão de sua candidatura para apoiar Aldo. Admitiu disposição de se submeter a "a qualquer tipo de avaliação coletiva" entre todos os partidos que compõem a base aliada, como uma prévia, para a escolha de um nome. "No esforço de ter uma candidatura única da base aliada, eu estou disposto a me submeter a uma reunião ampla com todos os líderes e presidentes de partido, ou a uma prévia, a um mecanismo que seja o mais límpido, para que a gente tenha aqui o melhor processo", afirmou.

Aldo também se nega a falar de eventual recuo. "Meu lema agora é o do corneteiro de Pirajá: o toque de avançar a cavalaria", disse. Referia-se ao corneteiro do exército Luiz Lopes, que, na Batalha dos Pirajás, em 1822, teve atuação decisiva para a vitória do Brasil, que lutava contra Portugal por sua independência. Considerando a situação perdida, o comandante das forças brasileiras ordenou o toque de retirada, mas o corneteiro soou o toque de avançar. Deu ânimo à tropa e causou insegurança no inimigo, que acabou derrotado.