Título: Furnas deve captar R$ 750 milhões para investimento
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2007, Empresas, p. B1

A diretoria de Furnas vai levar ao seu conselho de administração a proposta de captação de R$ 750 milhões em 2007. O objetivo, segundo seu presidente, José Pedro Rodrigues, é equacionar a necessidade de financiamento do plano de investimentos, que somente este ano prevê R$ 1,45 bilhão. A estatal deve recorrer ainda ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na carteira de projetos de geração - a empresa também está construindo duas linhas de transmissão - constam seis hidrelétricas nas quais Furnas tem controle ou participação minoritária, e onde serão necessários aportes, sem contar os sócios, de R$ 3,015 bilhões nos próximos anos.

A maior delas é Foz do Chapecó, com 855 megawatts (MW) instalados e que terá capacidade para gerar 432 MW médios. A estatal tem 40% do projeto e as obras começaram ontem. As outras são Simplício (100%), Serra do Facão (49,5%), Retiro Baixo (49%), Baguari (15%) e Batalha (100%). Juntas, elas exigirão aportes de R$ 5,2 bilhões.

Furnas fechou 2006 com captação de R$ 242 milhões em duas operações, dentro do limite autorizado pelo governo. Desse total, R$ 112 milhões foram captados entre outubro e dezembro na modalidade de Certificado de Crédito Bancário (CCB) em 13 parcelas usadas integralmente para rolar dívidas. Outra captação de R$ 130 milhões, concluída dia 28 de dezembro, foi destinada à rolagem de dívidas de curto prazo (180 dias). A estatal obteve taxa de 101,74%, em operação avaliada pela Moody´s como BR 1.

Se Rodrigues fala com entusiasmo sobre as hidrelétricas que a estatal tem em carteira, se cala quando o assunto muda para questões mais polêmicas que vêm afetando o resultado da empresa. Uma delas é o prejuízo com a venda da energia produzida pelas centrais nucleares Angra 1 e Angra 2.

Furnas é responsável pela comercialização dessa energia, que é monopólio estatal segundo a Constituição. Ela vendeu o insumo no primeiro leilão do novo modelo por uma média de R$ 67 o MW/hora, mas paga R$ 113 por MW para a Eletronuclear. Esse prejuízo deve ter um peso considerável no resultado da companhia. No mercado, se comenta que uma das alternativas em estudo seria a transferência dos contratos para a holding Eletrobrás, que passaria a carregar esse prejuízo no seu balanço, sem afetar sua subsidiária.

Outro problema que Rodrigues evita comentar é o "imbroglio" envolvendo a compra de 700 MW de energia da espanhola Cien, que tinha contrato para importação de 2.000 MW da Argentina. O contrato foi cancelado por um decreto do governo argentino e a energia deixou de ser entregue no Brasil. Além de Furnas, os outros clientes da Cien são a Copel e o grupo Suez. Sem receber essa energia, que havia sido revendida para distribuidoras, Furnas teve que comprar o insumo no mercado atacadista para honrar seus compromissos, pagando o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), que é bem mais caro. Sobre esse assunto, Rodrigues diz apenas que as empresas estão conversando com o governo para achar uma solução.

Outra dor-de-cabeça para Furnas são os 450 MW gerados pela TermoPantanal, em Cuiabá, que são comercializados pela estatal. Essa usina foi construída pela Shell e Enron. Furnas tem contrato de compra da energia, tendo inclusive vendido o produto no primeiro leilão do novo modelo do setor elétrico. Agora as duas partes estão brigando na Justiça para definir quem é responsável pelo pagamento do PIS/Cofins, que aumentou de 3,65% para 9,25% da receita bruta. Dependendo de quem ficar responsável por esse tributo, a tarifa será menor ou maior.

A disputa já está em R$ 23 milhões e uma decisão da 17ª Câmara Cível autorizou os donos da TermoPantanal a receber os valores devidos através do saque em uma conta garantida criada na época da contratação. Outro problema à frente é a intenção do governo da Bolívia de aumentar o preço do gás. Shell e Enron (hoje Ashmore/Prisma) têm contrato privado para compra de gás boliviano através de um ramal independente do Gasbol. O gás hoje custa pouco mais de US$ 1 e a Bolívia quer equiparação de preço com o gás comprado pela Petrobras, que é de aproximadamente R$ 4,20.