Título: Senado vai discutir acordo com Bolívia
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2007, Brasil, p. A5

O Senado pretende questionar o acordo fechado pelo governo brasileiro para remunerar melhor o gás natural comprado da Bolívia. A Comissão de Infra-Estrutura aprovou ontem um requerimento de audiência pública com o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Eles deverão comparecer no Senado, em data ainda indefinida, por convite - não se trata, portanto, de convocação.

Os parlamentares prometem uma postura bastante crítica em relação ao acordo. No mês passado, o Brasil aceitou pagar mais à Bolívia pelo alto teor energético do gás fornecido pelos seus campos. O preço de compra ficou mantido em US$ 4,20 para o limite de fornecimento de 30 milhões de metros cúbicos por dia, mas tudo o que exceder o poder calorífico - ou seja, de gerar energia - de 8.900 quilocalorias por metro cúbico receberá um pagamento adicional.

Ex-diretor de gás e energia da Petrobras, no governo Fernando Henrique Cardoso, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou que o acordo é satisfatório para o Brasil, mas considera importante buscar uma "solução definitiva" para a crise com a Bolívia. Para ele, um dos aspectos mais nebulosos do acerto é a destinação dos elementos químicos mais nobres do gás boliviano: etano (usado na cadeia de plásticos), propano e butano (insumos para produzir gás de cozinha) e gasolina natural (matéria-prima da indústria petroquímica).

Delcídio, que também é vice-presidente da Comissão de Infra-Estrutura, acha estranho que o governo tenha concordado em pagar mais pelo gás sem que esses elementos ricos possam ter qualquer finalidade industrial, por enquanto. "Se vamos pagar mais por um gás mais rico, que utilização vamos dar a ele?", questiona o senador. A Petrobras não tem atualmente nenhuma unidade de separação desses elementos. Para a geração de energia pelas usinas termelétricas, basta a queima da parte menos nobre do gás natural: o metano.

O senador acredita que a Petrobras tem planos para usar melhor o gás, mas diz que a estatal deve divulgá-los para aumentar a compreensão do acordo com a Bolívia.