Título: Fundos buscam antecipar as decisões do Copom para lucrar
Autor: Izaguirre, Mônica; Alves, Murilo Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2012, Finanças, p. C3

As decisões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) sempre são aguardadas com ansiedade, porque causam impactos significativos no preço dos ativos negociados no mercado financeiro. Como consequência dos cortes dos juros neste ano, o valor de mercado dos títulos de renda fixa de longo prazo registrou valorização expressiva.

Em janeiro, os papéis públicos prefixados com vencimento em 2016 eram vendidos nos leilões semanais do Tesouro com taxa de média de 11,2% ao ano. No último leilão, os títulos com o mesmo vencimento foram colocados com remuneração de 8,6% ao ano.

No mercado de títulos prefixados, quanto menor a taxa de juros, maior o ganho de capital para os investidores que já possuíam os ativos em carteira.

Considerando-se a diferença de taxas e o prazo total do título, significa que os papéis comprados em janeiro proporcionaram lucros de quase R$ 90 mil para cada R$ 1 milhão investido.

Apesar de arriscado, antever as decisões do Copom e montar estratégias de investimento de acordo com as expectativas para os novos patamares de juros pode ser uma atividade rentável.

Os gestores de recursos profissionais buscam esse tipo de ganho com empenho. No universo dos fundos de investimento brasileiros, existem diversas carteiras que utilizam estratégias sofisticadas para aproveitar eventuais oscilações de mercado para turbinar os lucros. Geralmente são fundos classificados como multimercado - que podem, por isso, adotar múltiplas estratégias, incluindo diversos tipos de arbitragem em renda fixa ou variável.

Mas nem sempre o resultado é certeiro e as posições podem dar prejuízo antes de se provarem lucrativas. Perdas assim não surpreendem. Para superar os principais parâmetros, os gestores precisam alavancar as posições. Significa apostar nas diferenças entre os rendimentos dos ativos.

Por exemplo, no período de três semanas entre 29 de agosto e 19 de setembro, a diferença entre a rentabilidade do IRF-M, índice que mede o desempenho de uma carteira de títulos públicos prefixados, e o retorno do IMA-S, indicador que acompanha a variação dos papéis vinculados à taxa Selic, foi negativa. O rendimento do IRF-M foi de 0,21% e do IMA-S de 0,39%.

Portanto, o resultado líquido de uma posição em que os ganhos estivessem vinculados ao desempenho do IRF-M e os prejuízos fossem atrelados à variação do IMA-S, seria uma perda de 0,18% sobre o total da operação.

Mas no período entre 19 de setembro e 10 de agosto, as três semanas anteriores à última reunião do Copom, o IRF-M apresentou rentabilidade de 1,20% e o IMA-S registrou valorização de 0,42%. A mesma posição, agora, proporcionaria lucros de 0,78% sobre o montante da operação.

O comportamento de alguns dos maiores fundos de investimento que conseguiram as rentabilidades mais elevadas nas três semanas que antecederam a última reunião do Copom ilustra os riscos envolvidos com as posições alavancadas. No período, os dez fundos mais rentáveis ganharam, no mínimo, 65% a mais do que o IMA-B.

O indicador mede a rentabilidade de uma carteira de NTNs-B, papéis que possuem remuneração vinculada à inflação. A explicação para o bom desempenho do ativo é que a perspectiva de redução dos juros, combinada com a manutenção das projeções para a inflação fez com que a demanda pelas NTNs-B subisse. O aumento dos preços de mercado dos títulos acabou sendo refletido no ganho de 3,18% do IMA-B. Já o Ibovespa, o principal índice da bolsa paulista, caiu 5,18% no mesmo período.

Três semanas antes, entre 29 de agosto e 19 de setembro, tinha ocorrido o inverso. A rentabilidade do IMA-B tinha sido de 0,65%, significativamente menor do que o ganho de 7,46% do Ibovespa. Essa dança dos indicadores geralmente afeta o desempenho dos fundos mais agressivos.

No entanto, por diversas razões, a rentabilidade de algumas carteiras não sofre com a oscilação dos indicadores. No conjunto dos fundos mais rentáveis nas três semanas anteriores ao Copom, três conseguiram manter os ganhos acima do mercado também no período compreendido entre 29 de agosto e 19 de setembro.

O BTG Pactual, por exemplo, gestor do fundo mais rentável no período, informa que esta carteira tem aplicações alavancadas em NTNs-B e é um veículo criado apenas para outros fundos aplicarem. A aplicação em títulos públicos indexados à inflação proporcionou os maiores ganhos.

Segundo Theodoro Messa, diretor de risco da Ipanema, a estratégia que mais contribuiu para o retorno do fundo Paineiras Hedge Master FI Mult - e das demais carteiras da gestora que aplicam nele -, que foram destaque no período, foi a posição em NTNs-B de prazos mais longos, acima de 2020. Essas taxas caíram mais que os papéis de curto prazo, o que trouxe uma valorização para esses títulos. "Temos essa posição há um ano, quando tínhamos a convicção de que a recuperação da economia mundial não estava consistente e que as taxas de juros de longo prazo no Brasil deveriam cair e permanecer em patamar mais baixo por um período mais prolongado." Para o gestor, ainda há espaço para ganhos com o papel.

Outros gestores que apostaram na queda das taxas de juros de curto prazo, quando o mercado ainda estava dividido entre a estabilização da taxa Selic e a intensidade do corte que viria na reunião do Copom, também tiveram ganho. É o caso da Ibiúna Investimentos, que tem como sócios os ex-diretores do Banco Central Mário Torós e Rodrigo Azevedo, que tinha posições em contratos de DI de prazos mais curtos, com vencimento em janeiro de 2013 e janeiro de 2014.

Para o investidor comum, aproveitar os ganhos excepcionais é tarefa difícil. Nenhuma das carteiras mais rentáveis está acessível para aplicações, porque são exclusivas ou restritas.