Título: Ata aponta fim do ciclo de cortes de juros
Autor: Izaguirre, Mônica; Alves, Murilo Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2012, Finanças, p. C3

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não deixa dúvida quanto ao fim do ciclo de cortes da Selic iniciado em agosto do ano passado. Os cinco diretores do BC que votaram por mais uma redução da taxa básica, na semana passada, trataram a decisão como "um último ajuste nas condições monetárias". O documento deixa evidente também que, apesar do repique inflacionário dos últimos meses, a política monetária continuou sendo pautada pela preocupação, antes de tudo, com o crescimento econômico.

Foram "as incertezas quanto à velocidade de recuperação da atividade" que levaram o presidente do BC, Alexandre Tombini, e os diretores Altamir Lopes, Aldo Mendes, Luiz Awazu Pereira e Luiz Feltrim a optar por mais uma redução da taxa, agora no patamar de 7,25% ao ano. Eles apontaram como argumento para tal incerteza a perspectiva de que a fragilidade da economia global seja mais prolongada do que se previa, com repercussões "desinflacionárias" sobre a economia doméstica. Quanto às recentes pressões sobre os preços, ponderaram que elas decorrem, principalmente, de choques de oferta que tendem a se reverter no médio prazo. "Portanto, no entendimento desses cinco membros do comitê, o cenário prospectivo para a inflação ainda comportava um último ajuste nas condições monetárias", revela a ata.

A possibilidade de que a Selic permaneça em 7,25% nas próximas reuniões do Copom saiu reforçada também por conta dos votos dissidentes de Anthero Meirelles, Carlos Hamilton Araújo e Sidnei Marques. Os três votaram pela manutenção da taxa em 7,5% por considerar que "o cenário prospectivo para a inflação não recomendava um ajuste adicional". A recuperação da atividade econômica, argumentaram, tende a ser sustentada pelos impulsos monetários, fiscais e creditícios dados anteriormente. Ou seja, entenderam que não era necessário mais um corte de juros para garantir a melhora do crescimento econômico.

Outro sinal de que a Selic ficará um tempo parada, após dez quedas seguidas, foi a repetição do comunicado divulgado na semana passada após a reunião: "O comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear". A grande dúvida daqui para frente é o que o BC entende por "tempo suficientemente prolongado".

A mediana das projeções de mercado colhidas pela própria autoridade monetária na pesquisa Focus supõe que a Selic voltará a subir já em 2013, fechando o ano em 8% ao ano. O BC reiterou na ata a crença de que a inflação oficial vai cair ao nível de 4,5% ao ano, centro do intervalo da meta.

O documento não informa exatamente quando o Copom espera que a inflação anual pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cairá para a meta central. Nos 12 meses encerrados em setembro, o IPCA ficou em 5,28%. Foi o terceiro aumento consecutivo nesse tipo de comparação. A inflação vai ceder, na visão do Copom, porque a pressão recente decorre de choque de oferta que tende a se reverter no médio prazo. O aumento das commodities agrícolas, provocado principalmente por problemas climáticos nos EUA, afetou a inflação brasileira. Com o baixo crescimento mundial, no entanto, a alta do preço das commodities não deve se sustentar, acredita o Copom.

O comitê segue acreditando que o cenário externo contribuirá para a redução da inflação brasileira no médio prazo. "Apesar de ter manifestado viés inflacionário no curto prazo, o cenário internacional se mostra desinflacionário no médio prazo", diz a ata. O documento lembra que, desde julho, surgiram pressões localizadas sobre os preços, principalmente, em função do choque de oferta no segmento de commodities agrícolas. Esse choque, por outro lado, avalia o comitê, deverá ser menos intenso e menos duradouro do que o ocorrido em 2010/2011 e, portanto, tende e a se reverter no médio prazo. O Copom vê o cenário externo como "desinflacionário" no médio prazo porque a economia global ainda enfrenta incerteza acima do usual, com perspectiva de baixo crescimento por período prolongado.

Para o BC, a demanda doméstica tende a se apresentar robusta, especialmente no item consumo de famílias, em grande parte devido aos efeitos de estímulos como o crescimento da renda e a expansão moderada do crédito. A ata destaca que a demanda ainda será impactada pelos efeitos retardados de ações de políticas já implementadas, entre elas cortes de juros e de tributos. Para o comitê, somados aos programas de concessões de serviços públicos e à gradual recuperação da confiança dos empresários, esses efeitos criam boas perspectivas para o investimento neste e nos próximos semestres. O Comitê ainda leva em conta que a atividade doméstica continuará a ser favorecida por programas de transferência pública de recursos, como o Bolsa Família, e pelo "vigor" do mercado de trabalho.