Título: Reforma ministerial fica para o fim de março
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2007, Política, p. A13

Satisfeito com o desempenho da atual equipe de governo, formada por "técnicos", e com dificuldades para encaixar Marta Suplicy e o PMDB da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prorrogou novamente a reforma ministerial para uma data qualquer na segunda quinzena de março. Este é o quinto prazo estabelecido por Lula. O pretexto é a convenção nacional do PMDB, no dia 11 do próximo mês, para a eleição do novo presidente da sigla, uma disputa que envolve os governistas históricos do partido, cujo candidato é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, e os "neolulistas", que apostam na reeleição do deputado Michel Temer para o cargo.

Em conversas ontem à tarde com dirigentes do PSB e do PCdoB, Lula explicou suas razões para o novo adiamento:

1 - Está satisfeito com a atual equipe. Portanto, não tem pressa. Como não será candidato em 2010, não tem outro objetivo a não ser fazer um bom governo no segundo mandato. Por isso quer montar uma equipe de excelência para poder ter um bom desempenho administrativo.

2 - Quer esperar a "estabilização" ou "acomodação", de acordo com o interlocutor, dos fatos políticos recentes, como a eleição para a presidência da Câmara e a escolha do novo presidente do PMDB para decidir.

3 - Quer discutir com o PT a indicação de Marta Suplicy para o governo. Aos dirigentes do PSB, Lula disse que gosta de Marta, reconhece o papel desempenhado por ela na sua reeleição, mas que está encontrando dificuldades para "deslocar alguém", ou seja, retirar o Ministério das Cidades do PP para entregá-lo ao PT, numa provável troca com o Ministério da Agricultura.

No que se refere ao PMDB, Lula espera que a eleição do novo presidente - seu candidato é Nelson Jobim - garanta uma interlocução institucional com o partido. O presidente quer saber com quem vai dialogar, pois, nas palavras de um dos interlocutores, "hoje fala com o Joaquim e amanhã com o Manoel". Na conversa que teve com o presidente do PMDB, Michel Temer, e líderes partidários, Lula assegurou que não interferiria na eleição pemedebista e que anunciaria a reforma após o Carnaval.

A ala governista do PMDB comemorou a decisão de Lula como uma pá de cal na reeleição de Temer. Na convenção que decidiu contra a candidatura própria à Presidência da República, os governistas ganharam por 66 votos. A razão do otimismo: boa parte dos que à época se alinhavam com Anthony Garotinho e votaram pela candidatura própria hoje estão com Jobim, como as seções gaúcha e do Rio.

Tão logo vazou a notícia segundo a qual Lula atrelara a reforma à convenção do PMDB, o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) telefonou para Michel Temer. O ministro disse ao pemedebista que ocorrera, na realidade, uma interpretação do que o presidente dissera: iria primeiro esperar os partidos se acomodarem para só então fazer a reforma. Como disse que viajaria no dia 6 (o que não está confirmado, pois é a data da reunião do presidente com os governadores), o PSB teria interpretado que a reforma ficava para depois do dia 11, data da convenção do PMDB. Temer entendeu que Tarso procurava amenizar a situação: "Fico com a informação que o presidente (Lula) deu ao PMDB, que a reforma seria depois do Carnaval. Mas esta é uma questão do governo e não do partido". Temer nega, mas no seu grupo já há um movimento pelo adiamento da convenção.

O PMDB do Senado, essencialmente integrado pelo grupo governista, já se considera atendido com a manutenção dos ministros Silas Rondeau (Minas e Energia) e Hélio Costa (Comunicações). Mas os "neolulistas" da Câmara - que faziam oposição no primeiro mandato -, cujo porta-voz é Temer, ainda esperam indicar um ministro para Saúde e o deputado Geddel Vieira Lima para a Integração Nacional, Pasta que o PSB reivindicou ontem para sua cota. Uma opção para Geddel seria o Ministério do Turismo, atualmente ocupado por Walfrido dos Mares Guia, cotado para articulação política do governo.

A questão de Marta é complexa. Em conversas com o PT, Lula tem demonstrado que já aceita nomear a ex-prefeita de São Paulo para o Ministério das Cidades. Ontem, na conversa com o PSB, mostrou as dificuldades que tem para nomear Marta nas Cidades, pois terá de desalojar o PP. Além disso Lula tem feito reiteradas manifestações de apreço pelo trabalho de Fernando Haddad, da Educação, Pasta do PT que poderia ser ocupada pela ex-prefeita.

Ao mostrar as dificuldades, Lula quer valorizar eventual convite a Marta Suplicy. Outros integrantes da coalizão do governo têm advertido que a nomeação de Marta antecipa para 2007 a sucessão presidencial, assunto que só deve entrar na pauta após as eleições municipais de 2008. Primeiro, o PT elegeu o presidente da Câmara - argumenta -, depois coloca Marta no ministério e abrevia o mandato de Lula. É o clima de intrigas que só se acentua na medida em que Lula retarda a reforma do ministério.

Na conversa com o presidente, o PSB pediu para manter o espaço que atualmente detém no governo: os ministérios da Ciência e Tecnologia e o da Integração Nacional, cobiçado pelo PMDB. Os dirigentes saíram convencidos de que manterão Ciência e Tecnologia, mas ficaram em dúvidas sobre manter a Integração Nacional. Lula disse que gostaria de ter Ciro Gomes de volta ao ministério - os dirigentes explicaram que Ciro deu por encerrada sua participação no governo e que agora quer colaborar com o presidente no Congresso. O PCdoB saiu da conversa com Lula também convencido de que manterá o Ministério dos Esportes. De quebra, pode levar a Secretaria Nacional da Juventude. Mas a conversa não foi conclusiva.