Título: Haddad finca bandeira do PT no Centro
Autor: Antonio Perez
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Política, p. A15

O mapa eleitoral do segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo mostra que Fernando Haddad fez mais do que consolidar a hegemonia do PT nos extremos Leste e Sul da capital paulista. O prefeito eleito expandiu as fronteiras petistas para zona eleitorais dominadas pelo candidato do PSDB, José Serra, no primeiro turno e pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) no pleito de 2008, quando bateu a ex-prefeita Marta Suplicy (PT).

Haddad venceu em 35 das 58 zonas eleitorais, virando o jogo em oito zonas em que Serra foi o mais votado no primeiro turno. O petista fincou a bandeira vermelha bem na região central de São Paulo ao vencer em Santa Ifigênia, com 50,98% dos votos válidos, contra 49,02% do candidato tucano. Apesar da vantagem pequena, o resultado mostra uma virada espetacular na comparação com 2008, quando Kassab amealhou 66,65% dos votos válidos em Santa Ifigênia.

Além da presença surpreendente no coração da capital, o petista também avançou na periferia. Na Zona Leste, Haddad destronou Serra na Vila Matilde e em Cangaíba, onde obteve 54,5% dos votos válidos, ante 45,5% do tucano. Em 2008, a diferença a favor de Kassab em relação à Marta em Cangaíba havia sido abissal (68,06% ante 31,94%).

Na Zona Sul, Haddad conquistou território tucano ao vencer no Jabaquara por 50,99% a 49,01%. Em 2008, Kassab havia batido Marta com vantagem expressiva (62,52% a 34,48%). O prefeito eleito da capital também levou a bandeira do PT ao extremo da Zona Oeste, ao vencer no Rio Pequeno, obtendo 54,14% dos votos válidos. Serra teve 45,86%. Lá, Kassab havia batido Marta em 2008 levando 67,17% dos votos válidos. Haddad também tirou o primeiro lugar de Serra em outras três zonas eleitorais: Pirituba, Nossa Senhora do Ó e Lauzane Paulista.

Além de avançar sobre territórios tucanos, Haddad reconquistou Capela do Socorro - tradicional reduto petista em que Kassab triunfou em 2008 com 50,57% dos votos válidos - e confirmou a liderança inconteste do PT nos extremos Sul, Leste e Norte da capital paulista. O prefeito eleito obteve as maiores votações em Parelheiros (83,50%) e Grajaú (82,28%) - na Zona Sul - e em Cidade Tiradentes (80,09%), na Zona Leste. Foram as mesmas zonas eleitorais em que o petista liderou no primeiro turno. Na Zona Norte, Haddad venceu com folga em Perus (74,18%), Jaraguá (68,53%) e Brasilândia (68,39%).

Haddad ganhou espaço e conseguiu bater Serra em 33 zonas em que Celso Russomano (PRB) e Gabriel Chalita (PMDB) mostraram força no primeiro turno. O petista foi derrotado em apenas doze das regiões onde esses dois candidatos tiveram suas votações mais expressivas. Esse avanço incluiu as zonas onde Haddad teve seu melhor desempenho ontem, como Parelheiros, Grajaú e Cidade Tiradentes, nas quais recebeu mais de 80% dos votos válidos ao atrair parte do eleitorado de Russomano. O candidato do PRB havia obtido 27,27% dos votos válidos em Cidade Tiradentes e 25,28% no Grajaú.

A aliança com Gabriel Chalita no segundo turno ajudou Haddad a crescer em regiões onde o petista apresentou sua pior performance no primeiro turno, como no Jabaquara, onde saiu de 25,2% para 51% dos votos válidos de um turno para outro. Ainda nessa base de comparação, os votos do petista na Vila Matilde saíram de 25,1% para 52,8% e em Lauzane Paulista, de 23,3% para 52,5%.

Com 53%, Haddad também conseguiu a maioria em Pirituba, onde Chalita obteve 15,01% dos votos válidos no primeiro turno. No Tatuapé, na Zona Leste, outro local em que Chalita se destacou na primeira rodada (15,43% dos votos válidos), Haddad perdeu para Serra, mas conseguiu melhorar seu desempenho, saltando de 19,3% para 38,9% dos votos válidos. Não foi à toa que Chalita recebeu um agradecimento especial no primeiro pronunciamento feito por Haddad na condição de prefeito eleito de São Paulo.

Já o tucano José Serra venceu em 23 das 58 zonas eleitorais. As vitórias mais expressivas foram no Jardim Paulista (77,67%), Indianópolis (76,19%) e Pinheiros (71,63%), zonas onde o tucano também obteve as maiores votações no primeiro turno.

Na avaliação do cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marco Antônio Carvalho Teixeira, Serra não conseguiu em sua campanha descontruir a imagem de político que governaria para apenas para os mais ricos, enquanto Haddad conseguiu atrair parte da classe média ao mostrar um perfil mais técnico em relação a outros quadros do PT, como a ex-prefeita Marta Suplicy, antes cotada para disputar o cargo. Para o analista, a campanha petista também foi bem-sucedida ao desvincular o julgamento do mensalão do processo eleitoral.