Título: Plano de pós-graduação dá prioridade a áreas da política industrial do país
Autor: Rodrigo Bittar
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2005, Especial, p. A10

O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) para o período 2005-2010, divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC), dará prioridade às pesquisas nas áreas atendidas pela política industrial do governo federal, pretende equilibrar regionalmente os investimentos em ciência e tecnologia e sugere o desenvolvimento de parcerias internacionais para aumentar os recursos disponíveis neste setor. O ministro Tarso Genro, da Educação, estima em R$ 1,66 bilhão os recursos necessários para o desenvolvimento do plano, o primeiro formulado na política de educação do governo Lula, ao longo dos seis anos de vigência. "Os recursos para este ano estão garantidos", afirmou o ministro da Educação, sem contudo apresentar valores. O PNPG foi desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) Algumas metas do plano são ambiciosas, mas mostram a grande defasagem do Brasil com outros países na formação em pós-graduação. Pretende-se, por exemplo, formar 16 mil doutores e 45 mil mestres em 2010, o dobro dos que foram formados em 2003. Caso esse patamar seja alcançado, o Brasil atingirá em seis anos o número de doutores por 100 mil habitantes alcançado pela Coréia em 1985. Apesar desse quadro comparativo desfavorável, Tarso Genro considera a pós-graduação uma das realizações mais bem-sucedidas no conjunto do sistema de ensino brasileiro. Ele cita que entre 1976 e 2004, o número de cursos de mestrado e doutorado aumentou de 673 para 2.993. Hoje há 110 mil alunos de mestrado no país e mais de dois mil no exterior. Genro também destacou a "profunda relação" que o plano tem com a política industrial. "Um plano de pós-graduação apresentado pelo MEC não poderia deixar de estar intimamente ligado a essa política", afirmou. Por conta disso, o PNPG prevê mais investimentos em cursos de mestrado e doutorado nas áreas de engenharia e computação, que hoje representam apenas 13% dos cursos de pós-graduação. Quando lançou a política industrial, em abril do ano passado, o governo priorizou os investimentos em fármacos, softwares, bens de capital e semicondutores. A decisão de associar a pós-graduação à política industrial busca driblar a dificuldade de um pesquisador obter financiamentos e bolsas. Somente o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) teve, no ano passado, mais de 16 mil pedidos de bolsas, dos quais apenas cerca de mil foram atendidos. Aumentar os recursos para financiamento das pesquisas é outro item enfatizado no documento de 90 páginas que expõe o plano. O PNPG salienta a necessidade de "estimular a parceria dos programas com as empresas, na busca de suporte financeiro para a ampliação de bolsas. Isto deve ser feito, sobretudo, em áreas que participam de cadeias produtivas, visando formar recursos humanos capazes de alavancar o desenvolvimento econômico e social". O CNPq paga, por mês, R$ 1.267 a um doutorando. Esse estímulo pode vir do exterior. "Deve-se contemplar tanto a parceria nos intercâmbios internacionais na busca de mecanismos alternativos para a ampliação do número de bolsas, como na viabilização de financiamento aos alunos, a ser pago após absorção deles no mercado de trabalho", prevê o MEC.