Título: Em Manaus, Virgílio garante 66% dos votos
Autor: Ulhôa ,Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2012, Política, p. A24

Após dois anos sem mandato, o ex-senador Artur Virgílio (PSDB) dá a volta por cima, vence todo o "time" da presidente Dilma Rousseff no Amazonas e é eleito prefeito de Manaus, com mais de 66% dos votos válidos. Ele derrotou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que contou com apoio de Dilma, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do governador Omar Aziz (PSD) e do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB).

Vitória pessoal de Virgílio, o resultado da disputa será capitalizado pela oposição como sinal de reinserção no Norte e exemplo de que é possível vencer Dilma e Lula em locais onde eles tiveram votação recorde, como os 80% que a presidente teve nessa capital, em 2010. "Manaus está acima do caciquismo e do mandonismo", disse o prefeito eleito.

O tucano defende a "renovação" do discurso do PSDB e a aproximação do senador Aécio Neves (PSDB) com o governador Eduardo Campos (PE), presidente nacional do PSB. "Vejo [essa aproximação] com os melhores olhos. São duas lideranças de futuro e, juntas, podem muito bem compor um bom futuro para o país. Mas, onde e como, não sei, afirmou Virgílio, ao Valor.

A eleição do tucano em Manaus pode ajudar Aécio a consolidar sua candidatura presidencial em 2014, principalmente num momento de enfraquecimento da legenda em São Paulo. No PSDB paulista está a maior resistência ao projeto de Aécio, que foi a Manaus para o comício de encerramento da campanha de Virgílio.

Artur Neto, como é conhecido no Amazonas, disputou numa aliança com o PPS, do vice Hissa Abrahão, e teve, no primeiro turno, um terço do tempo de propaganda eleitoral da concorrente. No segundo turno, o tucano conseguiu adesão de três dos candidatos mais votados no primeiro turno: Henrique Oliveira - do PR do senador Alfredo Nascimento -, o ex-prefeito Serafim Corrêa (PSB) e o deputado federal Pauderney Avelino (DEM), que só aderiu após pressão da cúpula nacional do seu partido.

Virgílio enfrentou também dificuldades internas. No início da campanha, ele rompeu com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que entrou com ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra incentivos fiscais concedidos pelo governo do Amazonas para atrair uma empresa instalada em São Paulo. Por causa disso, Virgílio passou a campanha sob a acusação de ser de um partido contrário à Zona Franca de Manaus.

O episódio, aliado a queixas de que o PSDB demorou a apoiar sua candidatura, levou à especulação de que Virgílio poderia deixar o partido e ir para o PSB. Ele nega. "Meu partido me contraria, eu digo o que penso, mas meu partido é o PSDB", disse.

Em 2010, Virgílio não conseguiu ser reeleito, mas foi mais bem votado que Vanessa em Manaus. Ficou na população um sentimento de que o tucano foi vítima das máquinas federal e estadual.

Apontado como um dos maiores derrotados nessas eleições, Braga, o líder do governo no Senado, minimiza o reflexo nacional da eleição de Manaus. "O que adianta o PSDB fazer o prefeito de Manaus e o [José] Serra perder São Paulo?", pergunta. Para ele, as implicações são apenas locais, com reflexos para o jogo eleitoral de 2014. Uma consequência direta é o enfraquecimento de sua candidatura ao governo do Estado, que vinha sendo considerada imbatível.

Virgílio diz não pretender deixar a prefeitura para disputar o governo, mas ganha protagonismo nas negociações. Eleito, o tucano deve se aproximar do governador Omar Aziz (PSD), que ontem, ao votar, disse que receberia da melhor forma o eleito, independentemente de quem fosse.

A candidata preferida de Aziz era a deputada federal Rebecca Garcia (PP), que desistiu após uma conversa com Braga. Ele diz que mostrou a ela pesquisas qualitativas. Interlocutores dela falam em chantagem.

No primeiro turno, Virgílio venceu com 40,55% (385.855 votos), enquanto Vanessa ficou com 19,95%. O prefeito eleito já administrou Manaus (1989 a 1992) e foi deputado federal por três mandatos e senador por oito anos.

Manaus, que completou 343 anos no dia 24 de outubro, é o município mais rico da região Norte e 6ª maior economia do país, com Produto Interno Bruto (PIB). A cidade tem 1,2 milhão de eleitores e 1,8 milhão de habitantes. É sede de grandes indústrias e montadoras internacionais, instaladas na Zona Franca de Manaus e tem graves problemas de abastecimento de água, moradia, crescimento desordenado, trânsito e infraestrutura.

O Tribunal Regional Eleitoral considerou um sucesso a campanha para coibir a propaganda de boca de urna, chamada "Candidato ficha limpa não suja a cidade". No primeiro turno, cerca de 30 mil toneladas de papel foram deixadas nas ruas. Dessa vez, o TRE decidiu que os candidatos seriam responsabilizados por abuso de poder econômico, boca de urna e crime ambiental, caso fossem encontrados santinhos nos locais de votação. Deu certo.