Título: Bolívia insiste em aumentar preço de gás exportado
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2007, Brasil, p. A6

A Bolívia não desistiu de aumentar o preço do gás exportado para o Brasil e insiste em cobrar US$ 5 por milhão de BTU. Segundo o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Carlos Villegas, esse seria o principal assunto do jantar do presidente da Bolívia Evo Morales, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ministro disse que o objetivo é aumentar o preço do gás comprado pela Petrobras dos atuais US$ 4,30 por milhão de BTU para US$ 5 e também aumentar dos atuais US$ 1,09 por milhão de BTU para US$ 4,30 o preço do gás vendido para a térmica de Cuiabá, que a partir daí teria aplicada a mesma fórmula de preço do Gas Supply Agreement (GSA) firmado entre Brasil e Bolívia para importação de 30 milhões de metros cúbicos/dia de gás pelo Gasbol.

A energia elétrica dessa usina é comercializada por Furnas. Segundo Villegas, o caso de Cuiabá é "o mais crítico", já que o contrato existente, foi feito quando as empresas privadas (Enron/Ashmore e Shell como compradores e a Andina, da Repsol como produtora) podiam assinar contratos de compra e venda de gás. Hoje, essa atividade é exclusiva da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB).

Sobre esse contrato, Villegas disse que a Bolívia "como país" pode adotar uma atitude unilateral para aumentar o preço do gás para a Térmica de Cuiabá, mas considerando "a relação fraterna entre o Brasil e a Bolívia e entre o presidente Morales e o presidente Lula", a Bolívia decidir optou por uma solução negocial. Questionado sobre o aumento do preço da energia no Brasil, o ministro disse que compreendia o problema mas que essa decisão (o repasse para o preço da energia) é interna e cabe apenas ao governo brasileiro. "Como produtor e vendedor de gás o que nos interessa é aumentar o preço", disse.

Villegas não viu com preocupação a oferta do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de abastecer o Brasil com gás venezuelano. Segundo Villegas, não existe competição entre os dois países, que são os maiores produtores de gás da região. "A Bolívia hoje entrega gás para o Brasil e a Argentina e esses dois mercados são cativos da Bolívia. O gás vai a São Paulo e Cuiabá e não vai ao Nordeste, onde deve entrar a Venezuela. Seria gravíssimo se a Bolívia disputasse com a Venezuela", disse o ministro, acrescentando que não vê concorrência entre os dois países produtores e sim um interesse conjunto de ter uma política energética que atende os produtores e consumidores.

Apesar das ofertas para aumento da produção de gás destinado à exportação para a Argentina terem ficado aquém dos volumes esperados, que eram de 27,7 milhões de metros cúbicos/dia até 2026, Villegas se disse satisfeito com o resultado das propostas. Segundo ele, as empresas têm agora seis meses para entregar os planos de desenvolvimento dos campos, os planos de investimento nos campos e fazer outra certificação das reservas. E acrescentou, ainda, que não convinha ao governo boliviano que as propostas chegassem até o volume máximo, porque a Petroandina (associação entre a venezuelana PDVSA e a YPFB) tem interesse de suprir cerca de 10% do contrato. As duas empresas vão começar a explorar gás nos departamentos de Tarija e Chuquisaca em 2008 e a expectativa é de começar a produzir em 2010.