Título: Gol estuda abrir subsidiária na Argentina para operar rotas locais
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2007, Empresas, p. B3

Em meio à maior crise de imagem da sua breve história, com o boicote de agentes de viagem e ainda sofrendo rescaldos do acidente com o vôo 1907, a Gol Linhas Aéreas estuda um novo lance na sua surpreendente estratégia de negócios: a instalação de uma subsidiária na Argentina.

A exemplo do que fez recentemente a chilena LAN, aproveitando-se da total liberdade para investimentos estrangeiros em aviação no país, a Gol avalia a possibilidade de entrar na Argentina para operar rotas domésticas. O projeto é estudado de forma confidencial e encontra-se em estágio relativamente embrionário, mas pode transformar-se num impressionante salto para a companhia aérea.

O Valor apurou que a Gol tem recebido pressões do governo argentino para criar uma subsidiária local. A empresa já voa para três destinos no país: Buenos Aires, Córdoba e Rosário - sempre em rotas que ligam essas cidades a capitais brasileiras.

Segundo fontes que acompanham as discussões, a Argentina quer atrair a Gol por entender que a competição no mercado local é insuficiente e que falta ao país uma empresa aérea de baixo custo e baixas tarifas para estimular a concorrência na aviação civil.

A idéia surgiu em setembro, quando autoridades aeronáuticas do Brasil e da Argentina negociavam uma revisão do acordo aéreo bilateral. Hoje, a quantidade de vôos permitidos de um país para outro é medida por número de assentos nas aeronaves. Ou seja, não importa quanto vôos são realizados, mas o volume de passageiros que eles podem transportar. Esperava-se alterar esse limite para a freqüência de vôos e, além disso, ampliar em cerca de 50% a quantidade de ligações aéreas autorizadas entre os dois países. Isso não deixa de ser uma demanda das próprias empresas, que vêm expandindo suas operações entre o Brasil e a Argentina.

As negociações caminhavam bem e estavam próximas de um acordo quando houve interferência direta da cúpula do governo argentino, impedindo a assinatura da revisão.

Para Buenos Aires, trata-se do momento ideal para discutir uma contrapartida - a instalação da Gol no país. Por isso, a Argentina se comprometeu a avalizar a revisão do acordo, mas pediu prazo até 6 de março.

Durante esse intervalo, o Valor apurou que o secretário de Turismo da Argentina, Enrique Meyer, reuniu-se sigilosamente com o presidente da Gol, Constantino Jr., para tratar do assunto. Meyer solicitou a ampliação do número de vôos da aérea para Córdoba - algo com o que a Gol já teria concordado - e pressionou pela instalação de uma filial. Cauteloso, Constantino evitou dar qualquer resposta definitiva, mas determinou o início de estudos para a criação da subsidiária. A interlocutores próximos, diz que a Gol e a Argentina "estão namorando".

Em 2005, a companhia já havia anunciado a intenção de lançar uma aérea de baixo custo no México, junto com o grupo local Inversiones y Técnicas Aeroportuarias. Na ocasião, em comunicado oficial, o argumento da Gol é de que via no país grande potencial de crescimento, cidades com pouca oferta de vôos, distâncias geográficas longas e tarifas altas. O início das operações mexicanas depende do sinal verde das autoridades locais. Em princípio, os estudos sobre o mercado argentino deverão contemplar as mesmas avaliações.

Uma das prioridades para a Gol é transformar-se em uma empresa verdadeiramente sul-americana, integrando todos os países da região até 2010 - não apenas com cidades brasileiras, mas também entre si. Com o radical encolhimento da Varig, a companhia já se tornou uma das líderes na América do Sul. Opera vôos diretos, além da Argentina, para Assunção, Montevidéu, Santa Cruz de la Sierra, Santiago e inicia, nas próximas semanas, 14 freqüências semanais a Lima.

Na Argentina, a legislação do setor aeronáutica não determina um teto para o capital estrangeiro em uma empresa. No Brasil, esse limite é de 20%. Por isso, há dois anos, a LAN Chile comprou praticamente 100% da participação acionária da Aero 2000. Outra companhia local, a Austral, foi absorvida pela Aerolíneas Argentinas.