Título: CVM vê "fortes indícios" de informação privilegiada
Autor: Durão, Vera Saavedra e Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, EU & Investimentos, p. D1

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) considera que há "fortes indícios" de uso de informação privilegiada no comportamento das ações da Ipiranga na sexta-feira, quando as ações ordinárias (ON) da distribuidora subiram 33,33%. Na semana passada, foram realizados 32 negócios, 21 só na sexta-feira, depois de o papel passar o ano todo com apenas quatro operações. Os gráficos das ações neste mês mostram também que a alta dos papéis ON começou já na semana passada. "A área de mercado da CVM vai apurar se isto de fato aconteceu e quem foram os responsáveis", disse Elizabeth Machado, superintendente de Relações com Empresas.

Ontem, Elizabeth recebeu a resposta ao ofício enviado já na sexta-feira, antes do anúncio do negócio, aos diretores de relações com investidores das três companhias da Ipiranga - a distribuidora, a refinaria e a petroleira - questionando a forte oscilação dos papéis. Em nota, a Ipiranga afirma que "até o dia 16 de março de 2007 não havia se concretizado qualquer fato de divulgação obrigatória ao mercado", garantindo que o contrato de venda de seu controle para Ultrapar, Petrobras e Braskem só foi assinado no domingo. A nota destaca que, nos dias anteriores à celebração do contrato, os assessores dos acionistas controladores "mantiveram, em caráter confidencial, negociações com os assessores dos então possíveis compradores, sem ter, contudo, qualquer documento vinculativo firmado".

Elizabeth diz que "de uns tempos para cá, a CVM vem enfrentando algumas situações semelhantes a estas da Ipiranga, com informações que saem nos jornais antes de o fato relevante ser divulgado, gerando oscilações atípicas dos papéis". A superintendente não vê, porém, necessidade de a CVM implementar outros instrumentos para coibir o que o mercado chama de "insider trader" por avaliar que a Instrução 358 da CVM que trata destes casos, "é perfeita".

Ontem, depois do fato relevante informando que a Ultrapar vai adquirir as ações dos controladores e dos acionistas ordinários do grupo com prêmios relevantes, os papéis com direito a voto atingiram seu pico "histórico" ante as cotações já elevadas de sexta-feira. Ipiranga Distribuidora ON teve alta de 67,40%, chegando a R$ 100,44 no fechamento do pregão. A ON da Ipiranga Petróleo subiu 69,80%, para R$ 52,30 e a Ipiranga refinaria, 20,4%, para R$ 96,50.

Já as PNs despencavam por conta da relação de troca pela Ultrapar, com preços bem abaixo do valor de mercado de sexta-feira. A PN da Ipiranga Distribuidora caiu 4,62%, a da Ipiranga Petróleo teve queda de 5,35% e a da Refinaria desabou, com perda de 9,16%.