Título: Do marxismo ao choque de gestão
Autor: Agostine , Cristiane ; Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2012, Política, p. A6

Ao anunciar os primeiros secretários de seu governo, o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), mostrou que está disposto a incorporar a bandeira tucana do choque de gestão, mas sem deixar de aproximar-se da esquerda de seu partido. Haddad nomeou para a Secretaria de Finanças Marcos Cruz, indicado pelo Movimento Brasil Competitivo, iniciativa idealizada pelo empresário Jorge Gerdau para levar o modelo de administração do setor privado para o público. Ao mesmo tempo, escolheu para a Secretaria de Planejamento a professora Leda Paulani, especialista na obra de Karl Marx e crítica da política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Haddad oficializou ontem cinco nomes: além dos titulares de Finanças e Planejamento, indicou o vereador Antonio Donato (PT) para a Secretaria de Governo; o advogado e professor da USP Luís Fernando Massonetto para Negócios Jurídicos e o arquiteto Fernando de Mello Franco para Desenvolvimento Urbano. Com exceção de Donato, todos têm perfil técnico.

No comando da Secretaria de Finanças estará Marcos Cruz, de 37 anos, consultor e sócio da McKinsey & Company. Cruz deixará a sociedade para assumir o cargo. É ligado ao Movimento Brasil Competitivo, que foi testado pela primeira vez em Minas Gerais, durante o governo de Aécio Neves (PSDB), em meados de 2003, e começou a ser difundido pelo país em 2005. O movimento elabora programas de melhoria de gestão para governos em todas as esferas e tem a McKinsey como parceira - a empresa acabou de ser contratada pelo prefeito eleito de Salvador (BA), Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), para mapear contratos da atual gestão. Dos 11 municípios que firmaram parceria ou ainda mantêm vínculos com o MBC, apenas o Recife (PE) é administrado pelo PT.

Cruz já prestou consultorias para o choque de gestão dos governos tucanos de Geraldo Alckmin, em São Paulo, e de Aécio Neves/ Antonio Anastasia em Minas Gerais e também para a administração da presidente Dilma Rousseff. Na secretaria, Cruz terá que renegociar a dívida da cidade com o governo federal.

Ontem, foi o único ausente do anúncio do secretariado. Segundo a assessoria de Haddad, o consultor estava viajando.

Na dobradinha da área financeira, responsável por Planejamento, Orçamento e Gestão, estará Leda Paulani, de 58 anos, professora do Departamento de Economia da USP e amiga de Haddad. Ambos conviveram na Faculdade de Economia, onde o petista fez mestrado, e na gestão Marta Suplicy (PT), quando trabalharam na Secretaria de Finanças.

Leda foi presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política, que reúne economistas heterodoxos. Sua crítica à política econômica do governo Lula, que considerava conservadora, foi registrada no livro "Brasil Delivery". Em 2010, disse que não via diferenças entre o projeto econômico da então candidata Dilma Rousseff e José Serra (PSDB).

Para Desenvolvimento Urbano, Haddad escolheu o arquiteto Fernando de Mello Franco, com 48 anos. Ex-professor da USP São Carlos, trabalhou na elaboração do programa de governo. Conheceram-se durante a campanha, em encontros entre o prefeito e especialistas, por meio do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole (Urbem). Deve atuar no combate à especulação imobiliária. Será o responsável pela revitalização da Cracolândia, com a revisão do projeto Nova Luz, e da reforma urbana prometida.

Em Negócios Jurídicos estará o advogado Luís Fernando Massonetto, de 35 anos, braço direito do petista no Ministério da Educação e na campanha. Professor de Direito da USP, Massonetto voltará à secretaria que ocupou no governo Marta.

Donato será o responsável pelas negociações políticas. O parlamentar, com 52 anos, é presidente do diretório municipal, foi o coordenador da campanha e comanda a transição. Na gestão Marta, foi o responsável pela descentralização administrativa, que transformou as regionais em subprefeituras. Dos cinco anunciados, é o único filiado ao PT.

Haddad disse ter dado prioridade à nomeação de "secretarias estratégicas", que têm influência em toda a prefeitura. Os próximos anúncios devem ser na área Social. Educação e Saúde devem ficar com o PT. O partido duela com o PP para nomear o titular de Habitação.