Título: Energisa planeja investir R$ 500 milhões
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Empresas, p. B10

Maurício Botelho, diretor-financeiro da holding Energisa, passou boa parte dos últimos meses envolvido em operações financeiras. Debêntures, alongamento de dívida e negociação com acionistas fizeram parte do cotidiano desse executivo, que pertence à família controladora da holding que substituiu a Cataguazes-Leopoldina na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Um dos desdobramentos práticos de todo esse esforço é que o grupo estuda agora uma volta aos investimentos, o que resultaria em aportes de até R$ 500 milhões nos próximos anos.

Controlador de um grupo que fatura R$ 2,3 bilhões, Botelho afirma que a Energisa poderia ir além desses R$ 500 milhões. Isso, porque o executivo não esconde de ninguém o interesse no setor de distribuição de energia no Nordeste do país. Em outras palavras, está de olho em uma possível privatização das companhias que foram federalizadas e que hoje estão nas mãos da Eletrobrás. Trata-se, portanto, da alagoana Ceal e da Cepisa do Piauí, que também estão no raio de ação da Equatorial Energia, dona da distribuidora maranhense Cemar.

Embora não haja nada de concreto em relação às federalizadas, o fato é que o fim do processo de remodelação trouxe alívio. Além de criar uma nova holding, a Energisa, a reestruturação modificou o perfil do endividamento líquido, que passou a ser majoritariamente de longo prazo. Para se ter uma idéia de como os débitos eram pesados, em junho de 2006, a dívida líquida da Energisa era de R$ 1,6 bilhão, sendo que 45% vencia em 12 meses. Hoje, esse indicador soma R$ 1,55 bilhão, sendo que 18% tem vencimento em um ano.

Mas para chegar a essa situação, o lançamento de debêntures no valor de R$ 350 milhões, feito em abril do ano passado, foi fundamental. Primeiro, porque permitiu comprar ações controladas por Antônio José Carneiro, conhecido também como "Bode", o que acabou modificando a estrutura acionária. A família Botelho, por exemplo, passou a deter 30% do capital total e 65% das ações ordinárias, mantendo portanto o controle. Já Carneiro ficou com 61% do capital total e o restante está no mercado.

Carneiro herdou essa participação na Energisa, depois que adquiriu os papéis junto ao grupo americano Alliant. Essa compra acabou com as divergências que o sócio americano tinha com a família Botelho e, de certa forma, também ajudou a viabilizar o processo de reestruturação. Tanto que o executivo assegura que a Energisa não será alvo de consolidação no setor. "Queremos crescer pelas próprias pernas", afirma Botelho.

Sendo assim, boa parte dos investimentos de R$ 500 milhões, ou seja R$ 380 milhões, já tem seu destino: o Estado da Paraíba. Dona das duas distribuidoras de energia do Estado, a Celb e a Saelpa, a Energisa planeja aplicar R$ 230 milhões principalmente na Saelpa, com o objetivo de reduzir as perdas de energia que hoje superam os 20%. Já os R$ 150 milhões restantes serão usados no Programa Luz para Todos do governo federal.

"Nossa meta é alcançar um nível de perda na Saelpa de 15,5% até 2009. Hoje, a perda consolidada do grupo é de 12,9%", afirma Botelho. Além da Saelpa e Celb, a Energisa controla a distribuidora Energipe do Sergipe, a Cenf que atende algumas regiões do Estado do Rio de Janeiro e a Cia. Força e Luz Cataguazes-Leopoldina que disponibiliza o insumo para o sudeste de Minas Gerais e ativos de geração.

Para Botelho a recuperação da perda de energia será fundamental para reforçar o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida). Tanto que se estima um ganho de R$ 40 milhões no lajida a partir de 2009.

Mas se os investimentos no Estado da Paraíba são certos, o mesmo não se pode dizer dos R$ 120 milhões restantes. Isso, porque esses recursos teriam como destino o projeto da usina hidrelétrica de Barra do Braúna em Minas Gerais. O empreendimento tem capacidade de 39 megawatts.

"Vamos tomar a decisão neste ano. Caso decidamos não fazê-lo (o projeto), podemos até vendê-lo", diz o executivo. Braúna acrescentaria 200 gigawatts hora ano aos atuais 6 mil gigawatts hora ano.