Título: NCR vai terceirizar produção no Brasil
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2007, Empresas, p. B3

A americana NCR, uma das maiores fabricantes mundiais de terminais de auto-atendimento, vai terceirizar sua produção no Brasil. Os equipamentos passarão a ser fabricados pela Solectron, companhia especializada em manufatura sob encomenda que tem uma unidade em Jaguariúna (SP). A previsão é de que a transferência será completada até o fim do ano. Com o movimento, a fábrica da NCR em São Paulo, no bairro do Brás, será desativada.

A decisão não afeta somente a unidade brasileira. A produção de duas outras fábricas - em Dallas e Waterloo, ambas nos Estados Unidos - também será transferida para a Solectron. A NCR manterá apenas três fábricas próprias: na China, Hungria e Índia.

A terceirização da manufatura é parte da estratégia de Bill Nuti, executivo-chefe e presidente da NCR, para cortar as despesas e levar a centenária companhia - cujo fundador, John H. Patterson, criou a caixa registradora em 1884 - a um novo patamar de crescimento. "Nos últimos três anos, cortamos os custos em quase US$ 400 milhões, o que nos deu a capacidade de investir nos negócios que representam o futuro", afirma Nuti.

A primeira visita do executivo ao Brasil tem um papel decisivo: "Vim para determinar o nível de investimento necessário para fazer os negócios crescerem no país", diz Nuti ao Valor. A NCR detém cerca de 30% do mercado mundial de caixas eletrônicos, mas no mercado brasileiro - onde enfrenta concorrentes como Diebold, Itautec e IBM entre outros - sua participação está abaixo da média. Os números do ano passado indicavam uma fatia de 10%. "Temos sido menos competitivos no Brasil por causa da cadeia de custos e da política de preços", afirma o executivo.

Com a transferência da produção, entre 55 e 60 profissionais, da equipe total de 350 pessoas, deixarão a companhia. A maioria deverá ser absorvida pela Solectron, como prevê o acordo mundial firmado entre as duas empresas, diz Elias Rogério da Silva, diretor geral da NCR no Brasil.

O quartel general da empresa, que compartilha as mesmas instalações da fábrica, deverá mudar de lugar, mas a NCR ainda não decidiu o que fará com o prédio. "Vamos precisar de um espaço mais adequado, mas ainda estamos estudando a questão, já que a operação vai acontecer com o avião voando", diz Silva.

A previsão é de que o executivo brasileiro ganhará mais autonomia na condução dos negócios no país. "Uma das mudanças culturais que estamos fazendo é dar mais poder a nossos líderes regionais", afirma Nuti.

Para o mercado, em especial os clientes no país, a mensagem que o executivo-chefe quer levar é de que o foco da NCR é o crescimento. A lista de usuários inclui nomes como Bradesco, Citibank e McDonald's. "Estamos no Brasil há 70 anos e num período tão longo é natural que ocorram altos e baixos", diz Nuti. "Nos próximos anos, esperamos mais altos do que baixos, mas compreendemos que isso exige investimento e foco no mercado."

A princípio, os sinais de investimento no Brasil não serão muito visíveis, mas em médio e longo prazos eles aparecerão com mais clareza, afirma o executivo. "Por enquanto, há muito trabalho sendo feito internamente, incluindo a busca de parcerias e a avaliação de novos produtos para trazer ao país", diz Nuti. "Não quero criar expectativas altas demais, mas levamos muito a sério o mercado brasileiro."

Fora do Brasil, o executivo americano está muito envolvido com o desmembramento da Teradata, sua divisão de data warehousing, uma tecnologia que ajuda as empresas a tomarem decisões com base em seus próprios dados acumulados.

A decisão de desmembrar a Teradata foi anunciada em janeiro e a previsão é de que o processo vai demorar de seis a nove meses para ser concluído. A Teradata representa uma porção menor da receita da companhia, mas é a parte que cresce mais rápido. Apesar disso, a separação não deve desacelerar o crescimento da companhia, diz Nuti. "É o contrário", afirma ele. "O auto-atendimento e o data warehousing são duas oportunidades de negócio muito grandes. Com o desmembramento, as empresas poderão concentrar o investimento para crescer em sua área."

Com a separação, a NCR continuará sob o comando de Nuti e a Teradata passará a ser dirigida por Mike Koehler, que hoje dirige a divisão. As duas empresas negociarão ações em bolsa.

Na NCR, a idéia é buscar negócios de auto-atendimento baseados numa convergência entre automação, internet e mobilidade. Sob esse desenho, a empresa poderia oferecer, no futuro, pacotes de produtos e serviços que permitiriam ao consumidor comprar uma passagem aérea, fazer sua reserva no hotel e alugar um carro, tudo a partir de um só lugar e sem interferência humana, afirma Nuti.