Título: Governador do Mato Grosso é contra ida de Stephanes para a Agricultura
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2007, Política, p. A9

O favoritismo do deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) para ocupar o Ministério da Agricultura esbarra na forte oposição do setor rural, vocalizada pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR). "Fico temeroso. Ele [Stephanes] não participa da vida agrícola do país. A Agricultura pode não ser politicamente interessante, mas tem um peso muito grande para a economia", disse ao Valor.

Em conversa com o futuro ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, o governador defendeu o nome do deputado Moacir Micheletto, colega de bancada de Stephanes. "A informação é de que ele é competente, íntegro. Mas o Micheletto tem mais história no setor", afirma. Único líder ruralista a apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Maggi reservou-se o papel de "avalista" do novo ministro e critica a eventual opção por Stephanes: "Não pode colocar [o ministério] na mão de quem não sabe como gerenciar isso, de quem não ouviu falar de contratos de opção, PEP, Pepro, Pesoja, defesa agropecuária".

A bancada ruralista também desaprova: "Ele não é do ramo, não vive o dia-a-dia. Lá, não é atender deputado e fazer discursos. É defender seguro rural, defesa agropecuária. Ele não terá muita sobrevida porque vai levar pancada de todo lado. Não terá apoio de todo o setor e das entidades", disse o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR).

Os deputados do PT também não gostaram da indicação. "É o pior nome para nós. É nosso inimigo político. Não vai dar certo. O Lula está errado", diz o coordenador do Núcleo Agrário do PT, deputado Adão Pretto (RS).

Escaldado com o fracasso da indicação de Odílio Balbinotti (PMDB-PR) na semana passada, lideranças pemedebistas preferem aguardar a palavra do presidente. "Na semana passada, os favoritos eram o (Waldemir) Moka (MS) e o (Valdir) Colatto (SC). Lula escolheu Balbinotti, que era um azarão. É mais prudente esperar", aconselhou um influente pemedebista.

Na reunião de segunda-feira à noite, Lula prometeu ao presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e ao líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (RN), que a resposta sairia ontem. Mas, em função de uma viagem ao interior de Goiás, Lula adiou a decisão. "Não estou pensando nisso, só vou pensar amanhã (hoje)", disse o presidente, em Mineiros (GO).

Se o ocupante da Pasta da Agricultura deve ser definido hoje, Lula pretende nos próximos dias acabar com a briga entre o PSB e o PR. Presidente do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, chega hoje à noite a Brasília para reunir-se amanhã com Lula e os demais integrantes da executiva. Na semana passada, após a reclamação de "subaproveitamento" do partido na reforma ministerial feita pelo líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), Lula acertou a criação da Secretaria dos Portos e a indicação para o cargo de Pedro Brito, ex-ministro da Integração Nacional e afilhado político de Ciro Gomes (PSB-CE).

O líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), reclamou do presidente e chegou a ameaçá-lo com a recusa dos Transportes. Segundo ele, se Lula mantivesse a idéia de desmembrar a Pasta, o partido preferia entregar a Pasta toda, já confirmada antes para o senador Alfredo Nascimento (AM). As lideranças do PR, porém, enquadraram Castro. De olho em indicações na Pasta, sobretudo no Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), parlamentares influentes e até o governador Blairo Maggi pediram ao líder que recuasse. Maggi indicou seu braço direito e suplente de senador, Luiz Antônio Pagot para o DNIT. Questionado, Castro esquivou-se. "Tudo o que eu tinha para dizer sobre o assunto eu já disse ontem (terça)."

Lula segue procurando um substituto para o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Após as recusas de Maurício Botelho (Embraer), Jorge Gerdau e Abílio Diniz (Pão de Açúcar), o empresário Antoninho Marmo Trevisan entrou na lista. A conversa teria ocorrido no fim de semana, mas, segundo fontes da consultoria do empresário, Trevisan não teria interesse no cargo.(Colaborou Caio Junqueira, de São Paulo)