Título: Para CPFL, pacote acelera consolidação do setor elétrico
Autor: Facchini , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2012, Empresas, p. B10

A Medida Provisória 579, que estabeleceu as regras para a renovação das concessões do setor elétrico, irá "rearrumar" o mercado de energia, forçando-o a ser mais eficiente e, abrindo, assim, espaço para uma necessária consolidação das empresas no país, avalia o presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Júnior.

Enquanto a MP causou um terremoto no mercado de capitais, provocando uma forte queda das ações das elétricas, Ferreira diz não temer os efeitos das medidas. A CPFL Energia mantém seu plano de investir R$ 8,1 bilhões entre 2012 e 2016.

A empresa aderiu à renovação de suas concessões na área de distribuição. Na área de geração, a companhia não foi afetada pela MP 579, já que os contratos de nenhuma das suas hidrelétricas estão prestes a vencer.

Embora pouco expostas ao pacote, as ações da CPFL não escaparam do mau humor dos investidores. As ações da empresa acumulam uma queda neste ano de quase 9%. Mas o estrago é pequeno se comparado ao de sua antiga controladora, a estatal paulista Cesp, cujas ações desvalorizaram neste ano 46%.

Ferreira acredita não haver motivos para tanta surpresa com a MP 579. "Com base no que está escrito na lei, as medidas já eram esperadas", afirma. A regra, argumenta, sempre foi "absolutamente clara" a respeito da modicidade tarifária, que norteia a política energética brasileira. "Todo o processo se trata de reduzir tarifas", afirma.

Indiretamente, acrescenta, a aceleração do processo de consolidação favorecerá a CPFL, que foi privatizada há exatos 15 anos e completa agora 100 anos desde a sua fundação, em Botucatu (SP). Atualmente controlada pelo grupo Camargo Corrêa, Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) e outros fundos, como a Fundação Cesp, a empresa tem como meta ser um dos principais "consolidadores" do mercado de energia, sobretudo no segmento de distribuição, que responde por cerca de 60% dos negócios da CPFL.

"A receita para enfrentar o desafio da modicidade tarifária é eficiência e inovação", diz Wilson Ferreira Jr.

"Existe espaço para dobramos de tamanho na distribuição", afirma Ferreira. No entanto, o ritmo de crescimento vai depender das oportunidades de aquisição, já que, nesse setor, só é possível se expandir por meio da incorporação das distribuidoras existentes. O território brasileiro de distribuição de energia está hoje nas mãos de 63 de empresas, sendo que os três maiores grupos detêm apenas 34% de participação de mercado. A CPFL é a líder do setor, com 13%. Em outros países, os três maiores grupos de distribuição de energia possuem cerca de 70% do mercado.

Desde que foi privatizada pelo Estado de São Paulo, em 1997, a empresa fez sete aquisições de distribuidoras e negocia neste momento, em conjunto com a Equatorial Energia, a compra do grupo Rede. A aquisição das empresas do Rede na região Sudeste "faz muito sentido" à companhia, diz Ferreira, que nega rumores de que iria desistir do negócio.

Desde o ano 2000 até o terceiro trimestre deste ano, os investimentos da CPFL Eenergia totalizam R$ 16,4 bilhões. Deste total, R$ 3,7 bilhões foram destinados às aquisições.

Sobre a MP 579, Ferreira afirma que as palavras de ordem nas empresas terão de ser "foco e escala". "A receita para enfrentar o desafio da modicidade tarifária é eficiência e inovação", afirma.

A CPFL, diz ele, já passou, desde 2003, por três revisões tarifárias da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que cortaram a tarifa da companhia em 42% ao longo desse período. "Nós sabemos que, há cada quatro anos, teremos o desafio colocado pela agência. Trata-se de um desafio permanente", afirma Ferreira, sobre os cortes tarifários. "E sobrevivemos a isso".

Ferreira assumiu a presidência da CPFL no ano 2000, dois anos após a privatização da companhia. Foi de sua autoria o "Plano Millenium", que implementou um choque de gestão na ex-estatal paulista, levando-a, na época, a reduzir o quadro de funcionários de 4,5 mil para 2,7 mil.

A CPFL foi adquirida pelo consórcio VBC Energia por R$ 3 bilhões no leilão de privatização, com um ágio de 70% sobre o preço mínimo. Após a aquisição das ações dos minoritários, o valor total desembolsado pelos controladores na aquisição da ex-estatal subiu para a R$ 3,5 bilhões.

Embora dolorosos no início, os ganhos de eficiência obtidos desde a privatização estão traduzidos nas duas demonstrações financeiras: a geração de caixa da empresa, medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações), saltou de R$ 1,1 bilhão em 1997 para R$ 3,8 bilhões em 2011, ou 242%. No ano em que foi privatizada, o lucro líquido da CPFL era de R$ 499 milhões. No ano passado, o ganho na linha final do balanço foi de R$ 1,6 bilhão.

Desde que abriu o capital, em setembro de 2004, a CPFL distribui R$ 9,8 bilhões em dividendos aos seus acionistas, ou o equivalente a 95% do seu lucro líquido.

Dentro da revisão tarifária, as distribuidoras já estão sujeitas às exigências que o governo agora quer impor às geradoras e transmissoras, afirma Ferreira. A taxa de remuneração permitida às distribuidoras caíram de 11,26% na primeira revisão tarifária para 9,95% na segunda revisão e 7,5% no terceiro ciclo.