Título: Collor pavimenta retorno com bandeira ambiental
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2007, Política, p. A18

Em seu retorno à vida política depois do banimento de 15 anos, o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) foi buscar na agenda mundial o mote para o exercício do seu mandato parlamentar: a questão ambiental, com ênfase para o aquecimento global e suas conseqüências climáticas.

Entre as iniciativas na área, Collor defende a realização, no Brasil, da 3ª Conferência Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio + 20) em 2012, com sede no Rio de Janeiro, onde foi realizada a 1ª conferência (ECO 92), em seu governo. Também propõe que Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos empenhado em denunciar os efeitos do aquecimento global, seja convidado a falar sobre o assunto no Senado.

Para o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade de São Carlos, Collor está tentando limpar o campo para lançar sua candidatura a presidente da República em 2010. Faria parte da estratégia o discurso do ex-presidente na tribuna do Senado, em 15 de março, colocando-se como vítima de uma conspiração que levaria ao seu impeachment em 1992.

"Toda a farsa, claro, tem como objetivo 2010. Com a mais absoluta certeza, ele sai candidato. E vai dar um ar moderno à campanha, provavelmente enfatizando as questões ecológicas. Como a eleição de 2010 fecha um ciclo, ele será um dos inúmeros candidatos", afirma o historiador.

Ele considerou "um desastre para a democracia" a sessão do dia 15, em que a maioria dos senadores presentes se solidarizou com o ex-presidente. "Collor voltou com tudo, refazendo a sua história pessoal e política e, pior, a história do Brasil. É um revisionismo contra a democracia e o estado de Direito Democrático", diz Villa.

Em geral discreto no plenário, Collor tem privilegiado sua atuação nas comissões técnicas. Logo no início do mandato, assumiu a presidência de uma subcomissão do Senado e a vice-presidência de uma comissão mista do Congresso encarregadas de acompanhar as mudanças climáticas. Uma das primeiras iniciativas foi convidar o físico José Goldemberg - que coordenou a participação brasileira na Eco 92 - para uma audiência pública.

Apresentou requerimento sugerindo ao governo federal que lute para realizar no Brasil a 3ª conferência mundial do meio ambiente em 2012, no Rio de Janeiro.

Em outro, propôs que o Senado convide Al Gore para discutir o aquecimento global. Pretende pedir apoio do Itamaraty para formalizar o convite. Os requerimentos foram aprovados com facilidade pelos senadores.

"Escolher o meio ambiente, um tema quente, cada vez mais presente na agenda política, é uma forma inteligente de Collor buscar sua inserção política", avalia o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília (UNB). Na opinião do professor, Collor está explorando "coisas positivas do governo dele", o que pode beneficiar seu retorno.

Até o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que subiu à tribuna na quarta-feira para lembrar as acusações de corrupção que levaram ao impeachment de Collor, chamou a atenção para a atuação do ex-presidente nessa área. "Vossa excelência botou o dedo na ferida. Acho que é a questão do meio ambiente é a mais séria que o mundo atravessa hoje", disse.

O próprio Collor não admite, por enquanto, a pretensão de disputar novamente a Presidência. "Isso não passa pela cabeça dele", afirma o ex-deputado Euclides Mello, primo, primeiro suplente e uma das pessoas mais próximas do senador alagoano.

Em sua argumentação em defesa da realização de uma conferência mundial do meio ambiente no país, 20 anos depois da Eco 92, Collor diz que os países não fizeram o "dever de casa" depois da conferência do Rio. Ele lamenta que o presidente norte-americano tenha visitado o Brasil sem que nenhuma declaração conjunta sobre proteção ambiental tenha sido assinada.

Encampando sugestão do senador Marco Maciel (PFL-PE), Collor apresentou requerimento sugerindo ao governo federal que faça gestões junto à Organização das Nações Unidas (ONU) para que o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) seja transformado em agência internacional, reivindicando que o Brasil seja a sede do novo órgão.

"O tema ambiental é simpático e pode ajudar da nova imagem do senador. Não vejo problema, se o envolvimento for verdadeiro", alerta o senador Renato Casagrande (PSB-ES), presidente de outra subcomissão encarregada de tratar das mudanças climáticas e relator da comissão mista integrada por Collor.

Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), colega de Collor na comissão mista, o ex-presidente está buscando dar continuidade ao trabalho que fez na presidência: "Na questão ambiental, a gente nunca diz que a pessoa chegou tarde. A gente diz: que bom que chegou. Todos são bem-vindos".