Título: Confiante, Abbas já acena para Israel
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2005, Internacional, p. A7

O provável vencedor das eleições presidenciais palestinas de domingo, Mahmoud Abbas, 69, disse ontem que quer reiniciar logo negociações de paz com Israel. Retórica que contrasta com a de poucos dias atrás, quando ele chegou a tachar Israel de "inimigo sionista", expressão normalmente usada por militantes islâmicos radicais. Essa ambigüidade ilustra a sua difícil missão: afirmar-se como um líder confiável para os palestinos e ao mesmo tempo como um interlocutor aceitável para Israel. Mostrando confiança, Abbas mudou o tom de sua campanha num lugar improvável: em Nablus, na Cisjordânia, onde grupos de militantes armados semi-autônomas dirigem campos de refugiados e disputam quem faz mais ataques contra os israelenses. Abbas disse que daria boas-vindas ao premiê israelense, Ariel Sharon, para recomeçar as negociações de paz. "Após as eleições, vamos reiniciar as negociações. Sharon é um líder eleito e vamos negociar com ele. Vamos botar o 'mapa da paz' na mesa e dizer que estamos prontos para implementá-lo", disse Abbas, logo onde Sharon é mais demonizado pelas duras medidas que vem tomando contra a Intifada, o levante popular palestino. Esse será o grande problema de Abbas se confirmado sua vitória (ele tem mais de 65% das intenções de voto). "Suceder Arafat significa ter de conciliar o inconciliável", disse Robert McMillan, do Centro de Estudos do Oriente Médio. O "mapa da paz", plano apoiado por EUA e Reino Unido, prevê um Estado palestino independente coexistindo com Israel. Sua implementação, porém, depende de coisas como o desarmamento de grupos violentos, pelo lado palestino, e o desmantelamento das dezenas de postos de controle não-autorizados na Cisjordânia, além do fim de centenas de assentamentos de colonos judeus. Nenhuma dessas exigências foi seriamente cumprida por nenhum dos lados. Alguns dos mais importantes líderes de grupos palestinos parecem querer dar uma chance a Abbas. Ala Sanakra, um líder local das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, um ramo mais violento do Fatah - partido de Abbas e de Arafat e que é majoritário na OLP -, disse que seus companheiros concordariam com um cessar-fogo, mas se Israel parar antes com as operações militares. Israel condiciona o fim dessas operações ao fim das operações de grupos como as Brigadas. Outro tema que parece inconciliável é o do direito de retorno de milhões de palestinos que perderam suas casas na guerra de 1948-49, logo após a criação do Estado de Israel. Para os israelenses, o direito de retorno seria uma tentativa de "minar o Estado judeu". Esta será a segunda eleição na Autoridade Palestina. São sete os candidatos à sucessão de Arafat, mas o segundo colocado nas pesquisas, Mustafá Barghouthi, está bem atrás de Abbas, com apenas 22%. O Hamas, importante grupo extremista islâmico, vai boicotar as eleições. Cerca de 1,1 milhão de palestinos se registraram para votar - cerca de 60% da população com direito a voto.