Título: Desvalorização do dólar causou déficit comercial com os EUA, acusa o Brasil
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2012, Brasil, p. A2

O Brasil acusou ontem os Estados Unidos de provocarem progressiva desvalorização do dólar, que turbinou as exportações americanas e virou os resultados do comércio bilateral. Durante exame da política comercial americana, na Organização Mundial do Comércio (OMC), a delegação brasileira reclamou que o superávit de US$ 6 bilhões que o Brasil tinha com os EUA transformou-se em déficit de quase US$ 4 bilhões em apenas cinco anos.

"Essa mudança é amplamente explicada pela forte depreciação do dólar em relação ao real", afirmou o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, diante dos mais de 150 países-membros da entidade. Ou seja, no comércio bilateral de US$ 50 bilhões anual, atualmente, os produtos americanos ficaram mais baratos, enquanto os brasileiros perderam competitividade com seu custo para vender no mercado dos EUA.

O representante brasileiro mencionou relatório à OMC que diz que os EUA, no rastro de políticas fiscal e monetária expansionistas, levou o dólar a desvalorização de 25% em termos reais entre 2002 e 2008 e mais depreciação de 16% entre 2009 e meados de 2011.

Azevedo notou que a liquidez excessiva de dólares americanos tomou o rumo de outros países em busca de mais rendimento ou "porto seguro", assim "estimulando valorização artificial e marcante de várias moedas".

Para o Brasil, o risco é forte, quando países enfrentam o desafio de deixar suas moedas sujeitas a forças que prevalecem em mercados financeiros internacionais altamente desregulados, especialmente quando eles têm opções limitadas de política econômica e ameaças sobre setores inteiros da produção

Em relatório sobre a economia global, a Organização das Nações Unidas (ONU) previu ontem que a contínua implementação de políticas de afrouxamento monetário por países desenvolvidos deverá "aumentar a volatilidade das taxas de câmbio de moedas de países em desenvolvimento e em transição".

O Brasil defendeu soluções multilaterais na área cambial, ou seja, sua proposta apresentada na OMC para corrigir assimetrias de câmbio no comércio, diante da "situação descoordenadas de respostas em torno do mundo".

A delegação brasileira reclamou de efeitos negativos de ajudas bilionárias dadas pelo governo americano ao setor financeiro nacional, considerando que podem afetar a competitividade de empresas financeiras de outros países.

O relatório da OMC sobre os EUA surpreende pela sua timidez, inclusive em seu tamanho, apenas 133 páginas, quando o exame da política comercial chinesa ou indiana resultou em 235 páginas.

A conclusão é de que o mercado dos EUA continua aberto, mas mantêm picos tarifários que afetam principais produtos de interesse de países em desenvolvimento, como têxteis e confecção, calçados e agrícolas. Cotas (limite quantitativo) para açúcar também foram alvejadas.

Os EUA são os maiores exportadores mundiais agrícolas, com enorme superávit, mas esse desempenho é atribuído aos bilhões de subsídios aos produtores. O Brasil reclamou que até hoje Washington não cumpriu as decisões da OMC para acabar com as subvenções aos cotonicultores. E teme que a nova lei agrícola provoque ainda mais distorções no comércio.

Outros países também criticaram barreiras americanas, incluindo programas do "Compre Americano". Outro alvo foi sobre a enorme demora de Washington para cumprir decisões dos juízes da OMC e alterar seus programas considerados ilegais.