Título: Investidor estrangeiro mira bônus do Brasil em 2013
Autor: Pacheco , Filipe
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2013, Finanças, p. C3

A emissão de US$ 1 bilhão em bônus de sete anos do BTG Pactual, que foi a mercado ontem e contou com demanda seis vezes superior ao montante colocado, serve como um bom termômetro do apetite de investidores estrangeiros por títulos brasileiros. A percepção é que papéis de emissores locais terão forte apelo nos próximos meses.

O Brasil foi, em 2012, um dos países emergentes preferidos para alocações de recursos de renda fixa por parte de estrangeiros, com cerca de US$ 51,1 bilhões em novos títulos. Segundo a Dealogic, que compila dados financeiros de todo o mundo, o país ficou atrás apenas da China (US$ 403,1 bilhões) e da Coreia do Sul (US$ 106 bilhões) em novas emissões.

Para os próximos meses, os investidores esperam emissões de nomes que vão além daqueles tradicionais desse mercado (como Vale, Petrobras e os grandes bancos), e uma maior presença de empresas da chamada linha "sub-grau de investimento", que têm bom perfil de risco de crédito e oferecem rendimentos mais altos aos investidores.

"Os banqueiros sabem o que estamos buscando. Eles sabem que vamos prezar por um pouco menos de qualidade se houver rendimentos. Mas, ao mesmo tempo, o risco de exposição deve ser bem pesquisado. Precisamos fazer nosso dever de casa", disse Eddy Sternberg, gestor de portfólio para dívida corporativa da empresa americana Loomis Sayles, que tem sede em Boston administra US$ 181,5 bilhões em ativos.

Ele ressalta que, em 2013, haverá uma busca maior por títulos de empresas com bom perfil de dívida e que ofereçam retornos mais atrativos que nomes tradicionais. O rendimento dessas ofertas, observado nas últimas emissões, tem sido cada vez mais baixo em função da reduzida chance de calote.

Ideia parecida é compartilhada por Esther Chan, da gestora britânica Aberdeen Asset Management, que conta com US$ 302,4 bilhões sob gestão e US$ 10 bilhões alocados em bônus de países emergentes. "Vemos um forte apetite por bônus brasileiros no ano que começa", disse Chan. "E esperamos que as emissões continuem forte na medida em que investidores mudam o seu foco, cada vez mais, para títulos corporativos com rendimentos mais altos."

Segundo Chan, a desaceleração econômica recente vista no Brasil pode ter impactado o apetite de estrangeiros pelo mercado de ações local, mas pouco afeta o potencial para novas emissões de dívida externa, "pois o mercado de bônus mira a força de crédito das companhias, que continua forte."

Para Carlos Gribel, gestor para mercados emergentes da americana INTL FCStone, as novas emissões devem voltar a tomar fôlego a partir de fevereiro. "Há muita liquidez para ser alocada, e acredito que há espaço para empresas menos conhecidas, principalmente no setor de infraestrutura."

Na opinião de Sternberg, da Loomis Sayles, há interesse forte por títulos de alguns setores da economia brasileira com boas perspectivas - como infraestrutura e varejo -, e que ainda recorrem pouco ao mercado externo para se financiar. Ele cita como exemplos positivos as captações do ano passado da administradora de shopping centers BR Malls, e a emissão de debêntures de infraestrutura da Concessionária Auto Raposo Tavares (Cart), que contava com redução de impostos para investidores estrangeiros.

Outra empresa citada pelos investidores foi a OAS, feita em outubro do ano passado, e que somou US$ 500 milhões com títulos de sete anos e cujo cupom ficou em 8,25% ao ano. Para Gribel, da INTL FCStone, é um caso positivo que deve abrir espaço para companhias parecidas. "Foi uma emissão bem feita para uma empresa de porte em um setor em crescimento."

Os gestores são unânimes em ressaltar, entretanto, que não basta oferecer rendimentos altos para ter uma operação exitosa: o perfil de dívida continuará a ser o primeiro ponto analisado.

O exemplo mais simbólico dessa premissa visto em 2012 foi o da Sifco, produtora de autopeças com sede em Jundiaí (SP), que tentou acessar o mercado externo de dívida algumas vezes ao longo de 2012 mas, diante dos altos retornos pedidos pelos investidores - ao redor de 12% ao ano - resolveu desistir. Optou, por fim, por emitir debêntures no mercado local. "Eles achavam que esse é um mercado aberto para todos. Não é", disse Sternberg.