Título: Em discurso, Obama pedirá à oposição que trabalhe junto
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Fonte: Valor Econômico, 21/01/2013, Internacional, p. A8

O presidente dos EUA, Barack Obama, e sua equipe recorreram a antecessores no cargo para planejar o discurso de posse que o democrata fará hoje e delinear o curso do seu segundo mandato.

Assessores da Casa Branca revisaram discursos de posse e pronunciamentos anuais conhecidos como "Estado da União" dos ex-presidentes George W. Bush e Bill Clinton. Obama vem consultando historiadores sobre Dwight Eisenhower, vendo semelhanças entre seu próprio desejo de cortar o orçamento militar e o ceticismo do ex-presidente republicano (1953-1961) em relação a novos equipamentos.

Os auxiliares de Obama dizem que o discurso apresentará a visão e as metas dele para o segundo mandato, enquanto o pronunciamento sobre o Estado da União, que virá logo depois, em 12 de fevereiro, dará detalhes sobre políticas específicas que ele quer implementar, entre elas um maior controle de armas, reforma das leis de imigração e redução do déficit. Assessores dizem que ele vai se mostrar otimista no discurso de posse e recordar os temas que definiram sua carreira política, provavelmente deixando os assuntos mais conflituosos para o Estado da União.

Obama vai usar o discurso de posse para lembrar "que nosso sistema político não exige que resolvamos todos os nossos debates e divergências", disse Valerie Jarrett, uma assessora de alto escalão do presidente. "Temos que trabalhar juntos para encontrar um lugar comum e há um papel para todo mundo desempenhar. Os americanos podem continuar a expressar suas opiniões e essa é a melhor maneira de influenciar o governo."

Obama vai discutir como os "princípios e valores da fundação" do país podem servir como guia num mundo em mudança, disseram funcionários do alto escalão do governo. O discurso não vai propor ideias novas, disseram eles, e Obama vai gastar pouco tempo revendo os últimos quatro anos.

Ele vai incentivar os americanos a participar dos desafios à frente do país. Isso difere da maneira com que Obama trabalhou no primeiro mandato: assessores dizem que ele está determinado, no segundo mandato, a se concentrar não tanto na política interna de Washington - de negociar diretamente com congressistas e tentar convencê-los a passar leis -, mas em mobilizar a opinião pública.

Assessores dizem que Obama fará questão de viajar para Estados de maioria oposicionista para defender suas políticas - uma mudança em relação ao primeiro mandato, em que ele quase só visitou Estados que tendem a apoiar o Partido Democrata ou que eram importantes para a reeleição. Funcionários do governo acreditam que o primeiro mandato de Obama demonstrou que ele foi mais bem-sucedido quando defendeu suas prioridades legislativas diretamente para os eleitores.

Obama fez o juramento de posse ontem numa cerimônia fechada na Casa Branca, obedecendo a data de 20 de janeiro estabelecida na Constituição americana. Os eventos públicos serão hoje, como sempre acontece quando a data oficial cai num domingo.

Obama tem refletido de maneira considerável sobre o que ele gostaria que acontecesse no seu segundo mandato. Na semana passada, ele recebeu um grupo de biógrafos presidenciais e historiadores para um jantar na Casa Branca. Durante a conversa, que discutiu desde a biblioteca presidencial até temas para o discurso sobre o Estado da União, Obama deixou claro que viu lições úteis no segundo mandato de Eisenhower, que foi de 1957 a 1961, de acordo com várias pessoas presentes ao jantar.

Eisenhower, que era do hoje oposicionista Partido Republicano, resistiu à pressão para gastar mais com equipamentos militares e fez um alerta sobre os riscos de um "complexo militar-industrial" ao deixar a Presidência. Obama também vem defendendo Forças Armadas mais enxutas e uma mudança na forma de elas lidarem com as ameaças mundiais modernas.

A história mostra que segundos mandatos podem ser difíceis de conduzir. Richard Nixon caiu por causa do escândalo de Watergate. Clinton quase teve seu mandato impugnado devido a seu relacionamento com Monica Lewinsky.

Mesmo antes do início do seu segundo mandato, os planos de Obama foram alterados por um massacre em Newtown, Connecticut. Agora, ele se comprometeu a endurecer o controle de armas, algo que seus assessores acreditavam ser politicamente impossível antes da tragédia e que mesmo hoje continua sendo duro de implementar.

"Seja por orgulho ou por pensar que têm mais apoio do que na realidade possuem, os presidentes invariavelmente exageram nos segundos mandatos", disse Ken Duberstain, ex-chefe de Gabinete durante o segundo mandato de Ronald Reagan. "Eles têm grandes planos - alguns deles contra inimigos imaginários - e invariavelmente seus segundos mandatos vão para o brejo."