Título: Crescimento se concentra em poucos setores
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2007, Brasil, p. A3

O perfil do crescimento da economia brasileira piorou. Em 2006, o setor de máquinas para escritório e informática contribuiu com 23% da alta do Produto Interno Bruto (PIB), a indústria extrativa com 16,4%, e máquinas e aparelhos elétricos com 10%. É uma composição bem diferente de 2004, quando o setor automotivo respondeu por 30,4%, máquinas e equipamentos por 11,7% e material eletrônico por 7,6%. Os dados foram apresentados por Antônio Barros de Castro, do BNDES.

"O Brasil tem um sistema industrial montado e agressivo, que passa por graves dificuldades, espelhadas na perda de composição do crescimento entre 2004 e 2006", diz. O economista ressalta que, em 2006, o setor de máquinas de informática foi incentivado por políticas públicas e a indústria extrativa adquiriu patamar expressivo.

Barros de Castro alerta que o crescimento da economia está se concentrando em poucos setores. Em 2006, apenas seis segmentos responderam por 75% a 80% da alta do PIB. Em 2004, eram dez. "O ano de 2004 foi extraordinário.", diz. O PIB cresceu 5,7%, puxado pelo investimento, que dobrou, e também pelas exportações, que dispararam. As vendas de produtos manufaturados subiram 33%.

Barros de Castro explica que o perfil de crescimento brasileiro em 2004 era diferente do restante da América Latina, cuja expansão estava baseada em petróleo e commodities minerais. Em 2006, o motor da expansão do Brasil está mais parecido com o continente.

Os termos de troca do Brasil (diferença de preços de exportação e importação) quase não se alteraram entre 2004 e 2006, apesar da alta do preço das commodities. Setores como automobilístico e têxtil foram prejudicados pelo câmbio e pela concorrência da China.

No Chile, Peru e Venezuela, os termos de troca quase dobraram no período. "Esses países crescem no vácuo da China", diz Barros de Castro. São nações ricas em recursos naturais, que desistiram da indústria manufatureira ao abrir a economia no início da década de 90. Com a emergência do dragão asiático, a conjuntura se tornou benéfica para esses países. "No Brasil, o crescimento foi truncado. Uma parte foi convidada a crescer muito e a outra passa por dificuldades", diz Barros de Castro. (RL)