Título: Candidatos buscam apoio de governadores
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2013, Política, p. A6

A intensa pauta federativa prevista neste ano para o Congresso Nacional e a eventual influência sobre as bancadas federais levou os candidatos a presidente da Câmara dos Deputados a fazer um périplo pelos gabinetes de governadores do país, que termina hoje.

Desde o início do mês, os candidatos Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Júlio Delgado (PSB-MG) disputam uma agenda com governadores de Estados de todas as regiões. A definição dos encontros passou por questões partidárias, regionais, e, claro, pelo tamanho das bancadas que poderão se transformar em votos no dia 4 de fevereiro.

Elaborada no fim de dezembro, a agenda de Alves focou os dez maiores Estados que, consequentemente, têm as maiores bancadas. Já Delgado centrou força nos governadores do seu partido e nos oito do PSDB, de onde espera partir um movimento para ganhar votos da oposição.

Como o de Beto Richa (PSDB), do Paraná, que deslocou alguns secretários para ajudarem sua campanha. Por trás disso, há o claro interesse tucano em derrotar o deputado André Vargas (PT-PR), um dos coordenadores da campanha de Alves no Estado e entusiasta da candidatura da ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) contra o PSDB paranaense em 2014. Ou do governador de Roraima, José de Anchieta (PSDB), que pode mobilizar o secretário de Agricultura Berinho Bantim (PEN), deputado federal licenciado, para votar. Em São Paulo, há até a expectativa de que o secretário de Energia, José Aníbal (PSDB), também se licencie para a eleição.

Por outro lado, outro tucano, Marconi Perillo (PSDB), muito influente em sua bancada federal, está fechado com o PMDB. Algo decorrente do acordo do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) com tucanos na CPI do Cachoeira, que livrou Perillo do indiciamento e poupou aliados do PMDB. Da mesma forma como Rosalba Ciarlini, do Democratas, governadora do Rio Grande do Norte, Estado de origem de Alves. O Rio de Janeiro também é território fechado do pemedebista, onde o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes centram forças para eleger também o conterrâneo Eduardo Cunha líder do PMDB. Delgado nem passou por lá. Alves se reuniu com ambos. "Quero falar com o maior número possível de governadores e não necessariamente para pedir votos, mas para que eles ajudem a elaborar uma pauta", disse Delgado.

A avaliação dos candidatos é de que os governadores dos Estados mais pobres têm mais influência sobre suas bancadas por serem mais dependentes dos poderes centrais estaduais. Mas a regra não é definitiva. Na Paraíba, por exemplo, Ricardo Coutinho (PSB) tem problemas com a bancada federal. Dos 12 deputados, é próximo de apenas dois.

A pauta das conversas variou de acordo com a situação do Estado. No Nordeste e no Norte, a redistribuição dos royalties do petróleo e do Fundo de Participação dos Estados é tema certo. No Sul e Sudeste, a conversa tem conteúdo mais político. Tarso Genro (PT), do Rio Grande do Sul, falou muito sobre a necessidade de aprovação da reforma política.

No entanto, em maior ou menor grau, a questão federativa sempre esteve presente. "O pacto federativo é a ordem do dia, está em todas as conversas. Essa é nossa primeira ideia, fazer uma reunião em março com todos os governadores para elaborar uma agenda legislativa ligada ao resgate da Federação", disse Alves ao Valor.

Na quarta-feira, ele reuniu 19 dos 22 deputados da bancada do Ceará, Estado do governador Cid Gomes (PSB), correligionário de Delgado, presente ao encontro. Cid, que na véspera se reunira com Delgado e mais dois deputados, não declarou apoio a nenhum dos dois, mas os relatos são de que defendeu abertamente a tese da proporcionalidade da representação na mesa, o que favorece o PMDB. A operação política para que a bancada cearense comparecesse em peso anteontem teve a influência do líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), e do senador Eunício Oliveira (PMDB), aliados de Cid.

Ao contrário dos adversários, a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) optou por fazer a campanha pelo telefone, mas diz que tem recebido convite de governadores para visitar seus Estados.