Título: Crédito para meio ambiente beneficia pequenos negócios
Autor: Faleiros, Gustavo
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Caderno Especial, p. F3

Pequenas empresas não têm do que reclamar: oferta de crédito para projetos ambientais não está faltando na praça. Existem linhas de financiamento tanto para quem já adotou uma estratégia ´verde´ quanto para os empreendedores que vão começar a investir na melhoria de seus processos produtivos. As opções de crédito podem ser acessadas nos bancos públicos ou privados e, o melhor, oferecem condições vantajosas para as companhias que decidiram inserir a sustentabilidade nos seus negócios.

No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as pequenas empresas estão entre as grandes beneficiárias dos financiamentos feitos na ponta por agentes financeiros, o chamado BNDES Automático. O banco exige que os empreendedores estejam de acordo com todas as licenças ambientais e possuam práticas de cuidado socioambiental. Para as empresas que possuem projetos ligados à área de meio ambiente ou modernização da linha de produção, o BNDES pode prover até 100% das necessidades de capital, com taxa de juros bastante atrativa (TJLP + 1%).

"Existe muita demanda porque muitas destas pequenas empresas fazem parte da cadeia produtiva de grandes corporações que exigem que seus fornecedores tenham práticas sustentáveis", informa o diretor do Departamento Meio Ambiente do BNDES, Eduardo Bandeira de Melo. Ele acredita que atuar na estruturação de cadeias produtivas seja uma das formas mais eficientes para que as empresas de menor porte se preocupem com o meio ambiente.

O aumento do crédito para investimentos em projetos ambientais ocorre paralelamente a um processo de conscientização das pequenas empresas, pondera a diretora de produtos socioambientais do Banco Real ABN AMRO, Linda Murasawa. O Real, considerado o precursor no Brasil nas linhas de financiamento ambientais, desenhou sua estratégia com grande foco nas companhias de menor porte, conta Murasawa. "Cerca de 60% das empresas brasileiras são pequenas, não adiantaria nada lançar um produto sem conscientizá-las", diz.

Para tanto, o Real se uniu ao Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) para se aproximar das empresas e despertar nelas o interesse por questões ambientais. A idéia era identificar nos setores industriais quais eram seus maiores riscos e transformá-los em oportunidade para o banco. A estratégia foi criar uma linha de financiamento para o projeto de Produção Mais Limpa da Fiesp/ Ciesp que começou a operar em 2005. O começo foi difícil, porque as empresas não sabiam montar projetos voltados aos temas de meio ambiente.

Aos poucos consultores e universidades começaram a entrar no mercado e cerca de 30 projetos de melhoria de processo produtivo já foram contratados. O número pode parecer baixo, mas o Real já realizou cerca de 4,7 mil operações em outras linhas de crédito que se destinam a financiar ações socioambientais, o que pode incluir investimentos em equipamentos de produção mais limpa. Novas parcerias estão sendo firmadas entre as Federações das Indústrias do Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O modo como as linhas de crédito para projetos ambientais foram estruturadas no Real beneficia a pequena empresa. No caso da Produção Mais Limpa, o prazo de amortização é de até 36 meses e a carência de três meses. Segundo Murasawa, o tempo para o início dos pagamentos foi pensado exatamente para que o empreendedor possa comprar, instalar e começar a operar os equipamentos. Como a lógica da produção mais limpa é exatamente reduzir a quantidade de matéria-prima e resíduos, a empresa obtém uma economia que lhe possibilita pagar o próprio financiamento. O juro cobrado, em média, é de apenas 2,35% ao mês.

"Uma administração que se preocupa com questões socioambientais está automaticamente mitigando o seu risco, há uma ligação direta com uma gestão financeira mais saudável", argumenta a diretora do Real. Ela cita como exemplo as mudanças climáticas. Apesar de ser um problema de longo prazo, o banco quer fomentar soluções nas empresas e tem financiado a elaboração inteira de projetos para a geração de crédito de carbono. Uma das idéias, revela Murasawa, é estimular grandes empresas a criar um programa de cortes de emissões na cadeia produtiva e com isso gerar créditos também nas pequenas empresas.

Bandeira de Melo, do BNDES, observa que uma boa linha de crédito é capaz de fomentar pequenas empresas com competência em nichos importantes do mercado. Um bom exemplo são as companhias que montam projetos de eficiência energética. Desde meados do ano passado, o BNDES opera uma linha de crédito que permite que empresas especialistas em economia de energia possam pegar empréstimos sem garantia. Até então, os empresários deste setor não conseguiam financiamentos pois só recebiam depois de projetos implantados. "Existe um potencial muito grande de economia de energia nas empresas e isso é algo altamente rentável", afirma o diretor do BNDES.

Aumentar a eficiência energética das pequenas empresas se tornou foco de um dos programas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Através de seu Fundo Multilateral de Investimentos, o Fumim, o organismo passou a financiar projetos de energia limpa na América Latina. No Brasil, já se aprovou um projeto no Tocantins com recursos da ordem de US$ 600 mil para financiar 160 famílias que se tornarão pequenos produtores de biodiesel. "Nossa idéia é criar oportunidades para pequenos empreendedores", afirma o coordenador do Fumim, Daniel Shepherd.

O BID já iniciou outro projeto no Chile em que está promovendo economia de energia em dezenas de pequenas companhias. Segundo Shepherd projetos na área de biocombustíveis já estão sendo pensados para o Peru e Colômbia. No Brasil, ele acredita, há grandes oportunidades para empresas atuarem no uso eficiente de energia na região Norte. "Há centros urbanos e vilas rurais que ainda dependem de óleo para gerar energia e onde se pode explorar o potencial de fontes alternativas, como a biomassa."