Título: Analistas esperam desaceleração da inflação no atacado
Autor: Machado, Tainara
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2013, Brasil, p. A3

Na expectativa de entrada de safras mais favoráveis de milho e da soja e também por causa da valorização do real observada entre dezembro e janeiro, economistas esperam forte desaceleração dos preços no atacado neste mês. A inflação ao consumidor, no entanto, deve superar alta de 1% e os reflexos da deflação dos produtos agropecuários só serão percebidos no varejo entre fevereiro e março. A média das estimativas de dez consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data é de alta de 0,32% do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) em janeiro, ante variação positiva de 0,68% um mês antes. As projeções variam entre avanço de 0,22% a 0,40%. A Fundação Getulio Vargas divulgará o resultado hoje às 8h.

A Tendências Consultoria estima alta de 0,39% do IGP-M neste mês e a economista Alessandra Ribeiro afirma que o principal fator para a perda de fôlego do índice na passagem mensal será os preços agropecuários, que vão deixar avanço de 1,40% em dezembro para mostrar deflação de 0,23% em janeiro. A economista afirma que produtos com grande peso na composição do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), como a soja e o milho, mostrarão trajetória mais favorável em janeiro do que no mês anterior, quando pressões pontuais levaram a um repique das cotações desses grãos.

Para a economista, esses produtos devem apresentar resultado em linha com o observado no IGP - DI, em que a soja teve deflação de 4,49%, enquanto o milho avançou apenas 0,63%. A expectativa de boas safras neste ano está contribuindo para a desaceleração, avalia Alessandra, assim como a valorização do real em relação ao dólar ao longo do último mês. No fim do ano passado, a taxa de câmbio chegou a se aproximar de R$ 2,15, mas o movimento recente de valorização levou a moeda americana a ser cotada ontem abaixo do patamar de R$ 2,00. "Como são itens comercializáveis, essa valorização do real contribui para que os preços em moeda doméstica cedam mais rapidamente", afirma a economista.

Natacha Perez, economista do Banco Fator, projeta recuo de 0,9% dos produtos agropecuários neste mês, decisivo para a perspectiva de alta de 0,24% do IGP-M em janeiro. Para ela, a expectativa da entrada da nova safra da soja e do milho está levando a uma queda dos preços desses grãos, movimento que foi reforçado pelo aumento dos embarques de soja e milho anunciados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Segundo Natacha, uma parte importante das terras agriculturáveis nos Estados Unidos ainda apresenta problemas com a seca, mas como não há expectativa de nova quebra de safra, os preços respondem com trajetória de baixa.

Para Marcelo Arnositi, economista-chefe da BB-DTVM, esses produtos começaram a mostrar tendência de queda no fim de dezembro, o que pode ter sido marginalmente reforçado pela valorização do real no período.

Natacha, do Fator, acredita ainda que o impacto do câmbio ocorre principalmente nos preços industriais. Para a economista, é esse movimento que explica em grande parte a projeção de alta de 0,23% desse grupo em janeiro, ante avanço de 0,46% um mês antes. "Produtos siderúrgicos e químicos, por exemplo, são fortemente impactados pela valorização do real", afirma.

Natacha projeta que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que tem peso de 60% no índice geral, vai mostrar deflação de 0,08% nesta leitura, com influência também da desaceleração esperada para os preços agropecuários. Alessandra, da Tendência, projeta IPA um pouco mais forte, mas ainda menor do que em dezembro, de 0,2%.

Para a inflação ao consumidor, que representa 30% do IGP-M, a perspectiva é de alta ainda forte. Os preços dos alimentos in natura seguem pressionados pelo período de chuvas e a projeção é de alta de 1,03% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) em janeiro, ante avanço de 0,73% observado no mês anterior, nos cálculos da Tendências.

"O grupo alimentação dará a principal contribuição negativa, mas também projetamos aceleração de despesas pessoais, por causa do reajuste de preços de cigarro, e de transportes", afirma Alessandra, da Tendências. O aumento das tarifas de ônibus urbano em São Paulo e no Rio de Janeiro foi adiado a pedido do governo federal, para evitar alta ainda maior da inflação ao consumidor em janeiro, mas reajuste em outras capitais, por exemplo, vão pressionar o grupo transportes.

Nos próximos meses, no entanto, a desaceleração dos alimentos no atacado deve chegar ao varejo, contribuindo para leituras mais positivas em fevereiro e março, segundo a economista.

Natacha, do Banco Fator, concorda. A economista calcula que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial de inflação, vai subir 0,78% em janeiro e 0,25% em fevereiro. Para essa trajetória de desaceleração, afirma, está embutida a perspectiva de queda de 18% das tarifas de energia ao consumidor e avanço bem menor do grupo alimentação.

Último item a compor o IGP-M, com peso de 10%, o Índice Nacional de Custo da Construção - M (INCC-M) avançou 0,39% em janeiro, variação mais forte do que a alta de 0,29% observada no mês anterior, conforme já divulgado pela FGV na sexta-feira.