Título: Euro perde força após discurso de Draghi
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Fonte: Valor Econômico, 08/02/2013, Finanças, p. C3

O euro voltou a cair na comparação com o dólar e o iene ontem, depois que o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse que a taxa de câmbio da moeda única europeia é importante para o crescimento e a estabilidade dos preços. Os investidores tomaram isso como um sinal de que o BCE está preocupado com o avanço recente do euro.

O euro manteve os ganhos logo depois que o BCE decidiu manter sua taxa básica de juro no patamar recorde de baixa de 0,75%. O anúncio veio em linha com a política do banco de esperar por sinais de uma recuperação econômica mais para o fim do ano - ou por sinais de um agravamento da situação econômica pela alta do euro.

Mas depois que Draghi começou a falar em uma coletiva de imprensa, após o anúncio oficial do resultado da reunião, o euro passou a ceder diante de declarações de que, mesmo havendo uma recuperação gradual da atividade econômica na zona do euro em 2013, há mais riscos negativos que pontos positivos.

O euro caiu ainda mais depois que Draghi disse que "a taxa de câmbio não é uma meta de política, mas é importante para o crescimento e a estabilidade dos preços e nós certamente queremos saber se a valorização será sustentada".

"Está claro que ele não quer uma valorização muito maior do euro", disse Boris Schlossberg, diretor-gerente da BK Asset Management em Nova York. "Há uma pressão enorme dos franceses. Ele está sinalizando seu descontentamento com uma valorização muito acentuada."

O euro encerrou o dia cotado a US$ 1,3431, em queda de 0,74%, chegando a US$ 1,3369 na mínima do período, o menor nível desde 25 de janeiro. Neste ponto, ele teve a maior queda percentual em um único dia desde junho. Em comparação ao iene, o euro caiu 1,2% para 125,08 ienes, batendo nos 124,48 ienes na mínima da sessão.

Antes das quedas de ontem, o euro acumulava alta superior a 2% em relação ao dólar no ano, e de mais de 10% em relação ao iene. A valorização do euro em 1º de fevereiro foi a maior registrada em relação ao dólar desde novembro de 2011 e levou o presidente francês François Hollande a pedir uma política cambial que proteja a moeda de "movimentações irracionais".

Mas enquanto os franceses mostraram preocupação com a possibilidade de o euro forte prejudicar as exportações e ameaçar a nascente recuperação da zona do euro, os alemães disseram que a moeda única europeia não está sobrevalorizada.

A economia da zona do euro encolheu no segundo e terceiro trimestres do ano passado, atingindo a definição técnica de recessão. A expectativa é de que a desaceleração registrada no quarto trimestre tenha sido maior. "A fraqueza econômica da região deverá perseverar no começo de 2013", disse Draghi na entrevista à imprensa.

Para alguns analistas, a onda de venda de euro ontem pode ter ido longe demais, ter sido rápida demais e ocorrido apenas no curto prazo. Christopher Vecchio, analista de câmbio da DailyFX em Nova York, observou que Draghi também disse que o euro valorizado é um sinal de confiança na região. "Novas perdas eventuais do euro não deverão ir além do espasmo que vimos até agora hoje [ontem]", disse Vecchio. Um leilão de bônus espanhóis atraiu uma boa demanda ontem, mas a ligeira alta dos rendimentos sobre o título de curto prazo limitou a alta do euro.

O dólar caiu ontem 0,3% em comparação ao iene, para 93,36 ienes. A libra subiu 0,2%, para US$ 1,5690, depois que Mark Carney, que assume o comando do Banco da Inglaterra em julho, demonstrou-se pouco inclinado a um afrouxamento imediato da política monetária, frustrando muitos investidores que acreditavam que ele seria mais propenso a isso.