Título: Funcef quer participar de leilões de hidrelétricas
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 01/05/2007, Finanças, p. C3

A Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, começou a avaliar a sua participação nos leilões das usinas hidrelétricas do Rio Madeira, inicialmente previstos para este ano, mas com data ainda incerta devido a problemas de licenciamento ambiental.

A idéia da fundação é ter uma participação minoritária, aliada a um investidor estratégico (com experiência em construção e/ou operação de empreendimentos de energia). Mas quer assegurar poderes no negócio para definir suas principais estratégias.

O Rio Madeira é um projeto polêmico, com investimento calculado em R$ 20 bilhões - o maior desde Itaipu. O governo tem grande interesse no seu sucesso, para reduzir o risco de falta de energia nos próximos anos, por isso incluiu a obra entre os projetos prioritários do Programa de Aceleração do crescimento (PAC). E tem se movimentado para, por meio da disputa nos leilões, obter o menor preço possível na tarifa aos consumidores.

A Funcef diz que, apesar de todos os interesses envolvido, não recebeu nenhuma ordem ou orientação do governo para participar da disputa - sua decisão se deve apenas às oportunidades de retorno no negócio. "O juro real deverá chegar perto de 6% nos próximos anos e, quem se antecipar em oportunidades como a do Rio Madeira, poderá sair ganhando", afirmou o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda.

O diretor financeiro da Funcef, Demósthenes Marques, diz que o interesse no leilão é um desdobramento de uma estratégia adotada já a partir de 2004 de investir em empreendimentos de infraestrutura. De lá para cá, foram feitas aplicações em vários fundos de investimentos em participações. Os investimentos aprovados nesses fundos, disse, chegam a R$ 800 milhões, e a integralização, a R$ 200 milhões.

A Funcef tem relativamente baixo investimento em renda variável, comparativamente a outros fundos de pensão, por isso tem espaço para crescer. Em 2006, a renda variável respondia por 25% da carteira (que no total é de R$ 26 bilhões), e o plano é chegar a 30% em 2007; nos anos seguintes, poderia subir mais.

O que há de novo na estratégia da Funcef é escolher alguns grandes empreendimentos para fazer investimentos diretamente, sem a intermediação dos gestores de fundos de participação. Já dentro dessa filosofia, recentemente a fundação participou de um consórcio que disputou - e perdeu - um leilão de linhas de transmissão de energia elétrica.

"A verdade é que faltam grandes projetos disponíveis", afirmou Lacerda. Rio Madeira é um deles, mas, se aparecerem outros, não está descartada a participação. É o caso, por exemplo, do trem de alta velocidade que irá ligar São Paulo ao Rio - em 2004, a Funcef chegou a avaliar este negócio, que acabou se tornando inviável com o aumento da taxa básica de juros naquele ano.

Embora o Rio Madeira seja um projeto avaliado em R$ 20 bilhões, o aporte de capital esperado é bem menor do que isso - pode envolver cifras tão baixas quanto R$ 300 milhões. Há sinalização de financiamento do BNDES. Em outros empreendimentos no setor de energia, o banco chegou a financiar uma parcela de 80% do negócio. Como o Rio Madeira foi incluído no PAC, esse percentual de financiamento pode ser ainda maior.

Do ponto de vista do investidor, afirma Demósthenes, isso muda a equação entre o risco e o retorno do empreendimento. A alavancagem de quem entra no negócio fica muito maior. Isso permite que o risco e o retorno sejam divididos da maneira mais conveniente entre cada um dos participantes da operação.

Até agora, afirma Demósthenes, a Funcef avaliou o negócio apenas com as informações públicas. A fundação está acompanhando as discussões ambientais - e considera seu desfecho como fundamental para entrar no negócio. O projeto tem despertado polêmica também pelo seu tamanho e por alguns aspectos técnicos, como o uso de turbinas verticais. "As informações que estão sendo divulgadas são muito distorcidas e não refletem a realidade dos dados disponíveis", disse Demósthenes.