Título: Baixo nível de investimento impede expansão, diz Ibre
Autor: Elias , Juliana
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2013, Brasil, p. A6

Enquanto os níveis de investimento se mantiverem baixos e o Produto Interno Bruto (PIB) continuar sendo movido basicamente a consumo, a economia do país estará fadada às taxas tímidas de crescimento que vem apresentando, ao lado de altos índices de inflação. Essa é uma das principais conclusões do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de fevereiro, que será divulgado nesta semana. "Já temos seis trimestres, ou quase dois anos, com o investimento negativo", explica Silvia Matos, coordenadora técnica do boletim no Ibre, referindo-se à série do Indicador Mensal do Investimento (IMI), feito pela fundação. Apenas no quarto trimestre de 2012, essa queda foi de 1,6%, comparada ao trimestre anterior.

Nos cálculos do Ibre, que prevê um PIB de 0,9% para 2012, o investimento deve registrar uma queda de 0,9% no ano, confirmando-se como o principal fator negativo da conta nacional. "E não é só uma questão quantitativa", diz Silvia. "O crescimento tem que ter qualidade, e, se não há investimentos, na prática, as empresas têm menor eficiência, não conseguem aumentar a produtividade e isso fatalmente pressiona a inflação."

Pesa ainda o fato de que basicamente o único motor que restou puxando o PIB em 2012 foi o consumo, seja das famílias, com variação de 1,8% em 2012, segundo o Ibre, seja do governo, que encerra o ano com uma alta de 0,6% e uma participação de 40% na variação total da demanda interna, que foi de 1,5%. "Isso nunca tinha acontecido", disse Silvia.

Em 2009, ano em que a crise internacional se acentuou e quando naturalmente se espera uma participação maior dos gastos estatais, essa proporção foi de 30%, com o consumo do governo subindo também 0,6% dentro de uma demanda interna a 2%. "Nada contra o consumo. É bom que ele cresça, mas ele não pode ser o motor sozinho. Isso também gera inflação", disse Silvia. "Se o PIB crescesse os mesmos 0,9%, mas com um consumo um pouco mais baixo e o investimento um pouco mais alto, já seria um quadro melhor."

É também a falta de investimentos que vem colaborando para estoques em alta: "Os estoques de bens duráveis tiveram uma boa desovada no fim do ano, mas os de bens de capital seguem bastante altos, resultado justamente da falta de investimentos", disse Silvia. Em 2012, os estoques tiveram um impacto negativo de 0,6% no PIB, segundo o Ibre.

Entre as esperanças de que os investimentos saiam da paralisia, Silvia ressalta os vários pacotes de concessões que o governo vem apresentando ou planejando, entre eles ferrovias, aeroportos, portos e blocos de petróleo. "Todos esses pacotes, junto a uma melhoria do ambiente regulatório, podem voltar a estimular um pouco o investimento", diz. "Mas não será ainda neste trimestre que a atividade econômica mostrará recuperação. Será necessário antes baixar esses estoques."

O Ibre prevê expansão de 2,8% para o PIB neste ano. "Não será ruim, porque crescer mais do que 2012 será fácil. A dúvida será ver em que ponto entre 2% e 3% ficará esse crescimento." Caso a economia mantivesse o ritmo de 0,6% de crescimento - alta estimada pelo Ibre para o quarto trimestre -, seria possível alcançar um PIB anual de 2,4%. "Com o quadro atual, e sem investimentos, o governo não consegue um crescimento de 3% com equilíbrio, e sem inflação."